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sexta-feira, abril 22, 2016

À BEIRA-RIO. Charles Fonseca. Poesia.

À BEIRA-RIO
Charles Fonseca

Mesmo com horrível censura,
Lá se vão já muitas décadas,
A flor abriu-se em pétalas
Nem na cabeça a tonsura

Impediu gozo vicário
Da cabaça, a flor em mel,
Adoçou o travo fel
Do barrado vate vário.

Que barra pesada aquela!
A flor no peitoril
À janela céu anil
Só os dois e a gemer ela

A flor toda orvalhada
Em cálice turgescente
O peito arfante à frente
O corpo em rebolado

E o poeta em carvalho
E a flor em junco tenra
Nele se encosta o esquenta
Pobre poeta espantalho

A cabeça mais acima
Pensa menos que a de baixo
Oh geleia, sobe o facho,
Uma fêmea choraminga.

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