Súplica a minha mãe
Pier Paolo Pasolini
É difícil dizer com palavras de filho
aquilo a que intimamente bem pouco me pareço.
És a única no mundo que sabe o que esteve sempre
no meu coração, antes de qualquer outro amor.
Por isso tenho de dizer-te o que é horrível sabe:
é na tua graça que nasce a minha angústia.
És insubstituível. Por isso está condenada
à solidão a vida que me deste.
E eu não quero estar só. Tenho uma fome infinita
de amor, do amor de corpos sem alma.
Porque a alma está em ti, és tu, mas tu
és minha mãe e o teu amor é a minha servidão:
vivi a infância como escravo desse sentimento
supremo, irremediável, de um fervor imenso.
Era a única maneira de sentir a vida,
a única cor, a única forma: agora terminou.
Sobrevivemos: e é o caos
de uma vida que renasce fora da razão.
Suplico-te, ah, suplico-te: não queiras morrer.
Estou aqui, sozinho, contigo, num Abril futuro…
terça-feira, outubro 06, 2015
Súplica a minha mãe. Pier Paolo Pasolini
Marcadores:Charles Fonseca,....Charles Fonseca,
Pier Paolo Pasolini,
Poesia
Escreva para o meu e-mail: silvafonseca@gmail.com
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário