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quinta-feira, outubro 29, 2015

O tonel das Danaides. Castro Alves

O tonel das Danaides
Castro Alves

diálogo


Na torrente caudal de seus cabelos negros
Alegre eu embarquei da vida a rubra flor.


— Poeta! Eras o Doge o anel lançando às ondas...
Ao fundo de um abismo... arremessaste o amor.


Depois minh'alma ao som da Lira de cem vozes
Sublimes fantasias em notas desfolhou.


— Cleópatra também p'ra erguer no Tibre a espuma
As pér'las do colar nas vagas desfiou!


Depois fiz de meu verso a púrpura escarlate
Por onde ela pisasse em marcha triunfal!


— Como Hércules, volveste aos pés da insana Onfália
O fuso feminil de uma paixão fatal.


Um dia ela me disse: "Eu sou uma exilada!"
Ergui-me... e abandonei meu lar e meu país ...


— Assim o filho pródigo atira as vestes quentes
E treme no caminho aos pés da meretriz.


E quando debrucei-me à beira daquela alma
P'ra ver toda riqueza e afetos que lhe dei! ...


— Ai! nada mais achaste! o abismo os devorara...
O pego se esqueceu da dádiva do Rei!


Na gruta do chacal ao menos restam ossos...
Mas tudo sepultou-me aquele amor cruel!


— Poeta! O coração da fria Messalina
É das fatais Danaides o pérfido Tonel!

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