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domingo, abril 12, 2015

A assembléia dos ratos. Monteiro Lobato. Prosa

A assembléia dos ratos
Monteiro Lobato

Um gato de nome Faro-Fino deu de fazer tal destroço na rataria duma casavelha que os
sobreviventes, sem ânimo de sair das tocas, estavam a ponto de morrer de fome.
Tornando-se muito sério o caso, resolveram reunir-se em assembléia para o estudo da
questão. Aguardaram para isso certa noite em que Faro-Fino andava aos miados pelo telhado,
fazendo sonetos à Lua.
— Acho – disse um deles – que o meio de nos defendermos de Faro-Fino é lhe atarmos um
guizo ao pescoço. Assim que ele se aproxime, o guizo o denuncia, e pomo-nos ao fresco a
tempo.
Palmas e bravos saudaram a luminosa idéia. O projeto foi aprovado como delírio. Só votou
contra um rato casmurro, que pediu a palavra e disse:
— Está tudo muito direito. Mas quem vai amarrar o guizo no pescoço de Faro-Fino?
Silêncio geral. Um desculpou-se por não saber dar nó. Outro, porque não era tolo. Todos,
porque não tinham coragem. E a assembléia dissolveu-se no meio de geral consternação.

Dizer é fácil; fazer é que são elas!

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