O MAR E O CANAVIAL
João Cabral de Melo Neto
O que o mar sim aprende do canavial:
a elocução horizontal de seu verso;
a geórgica de cordel, ininterrupta,
narrada em voz e silêncio paralelos.
O que o mar não aprende do canavial:
a veemência passional da preamar;
a mão-de-pilão das ondas na areia,
moída e miúda, pilada do que pilar.
O que o canavial sim aprende do mar:
o avançar em linha rasteira da onda;
o espraiar-se minuciosio, de líquido,
alagando cova a cova onde se alonga.
O que o canavial não aprende do mar:
o desmedido do derramar-se da cana;
o comedimento do latifúndio do mar,
que menos lastradamente se derrama.
domingo, março 29, 2015
O MAR E O CANAVIAL. João Cabral de Melo Neto. Poesia.
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