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sábado, janeiro 03, 2015

Médicos de esquerda e de direita. Marcelo Caixeta. Medicina. Psiquiatria

Eu justifico os médicos que não conseguem fazer residência mas fazem "cursinhos de pós-graduação" ( p.ex., "especialização em psiquiatria" ).
Muitos aqui atacam os médicos que, ao invés de fazerem residência, fazem pós-graduação. Dizem : “quem quiser ser especialista que vá ralar, morrer de estudar, etc”.
No entanto, temos de ver o outro lado da moeda : aqui neste país, todos conspiram para não facilitar a formação do médico já graduado. Abaixo vou dar exemplos de como isto acontece na prática.
Tanto os “médicos de direita” ( os “grandões da medicina”, os“professores”, os “donos de hospitais”, os “chefes de serviço”, os “chefes de entidades” ) quanto os “médicos de esquerda” ( os “legalistas”, os burocratas, os que tem raiva da iniciativa privada, os que gostam do “poderzinho que o cargo público lhes dá”, aqueles “funcionariozinhos” que tem inveja dos que conseguiram sucesso profissional, econômico, acadêmico, etc ) conspiram contra o médico que quer especializar-se.
1) Os médicos de direita dominam as entidades, compram apoio de médicos teleguiados, e, utilizando-se disto, impedem a “concorrência”. Conheço um ótimo grupo de psiquiatras , interessados em formar os colegas, sem interesse financeiro, político, mas que são renitentemente barrados em uma Federada da Associação Bras. de Psiquiatria ( só esta pode autorizar cursos oficiais de especialização ) porque o “chefão” ( e seus teleguiados ) tem inveja deles, teme a concorrência deles, não quer mais “psiquiatras no mercado”.
2) Do lado dos médicos de esquerda, conheço também ótimo grupo de psiquiatras, assim como o listado acima, que tem ótimo hospital, preceptores, etc, mas têm seus vários pedidos de residência ( 4 ) renitentemente negados por causa de “legalismos” governamentais. O Governo diz que visa aumentar vagas de residência mas é pura balela. As regras legalistas ( aplicadas apenas aos “inimigos”; “aos inimigos, a Lei” ), extremamente rígidas quando aplicadas aos não-amigos, são intransponíveis. Um dia este grupo de psiquiatras questionou os “legalistas-esquerdistas” : “por que voces dizem que estão facilitando a residência”? A resposta : “está tendo facilitação apenas para estruturas do governo e para medicina da família” . Não é preciso dizer que , de modo geral, as “estruturas do Governo” não tem o menor interesse em aumentarem vagas, pois funcionário público não quer mais trabalho ou mais canseira, o contra-cheque dele vem no fim do mês trabalhando ele ou não. A gente sabe que a resolutividade da medicina da família é limitada e que , na verdade, é um curso que serve praticamente só para aumentar o trabalho médico-escravo no SUS...
Outra pergunta que foi feita ao médico esquerdista : “por que vocês dificultam tanto para a abertura de residencia do médico brasileiro e facilitam tanto para os cubanos, que nem médicos são” ? Resposta dos legalistas : “isto não é nossa área, e tudo que foi feito com os cubanos foi feito dentro da legalidade, em leis aprovadas no Congresso” ( todos sabemos que o Governo, quando quer ajeitar para os seus, muda até a Constituição, como vimos na Lei do Orçamento ).
O que é interessante é que tanto os médicos de direita quanto os de esquerda, recebendo gordas comissões, são professores de cursos financistas de especialização em psiquiatria. Tais cursos, para serem aprovados, para terem penetração no mercado, costumam contratar como “professores” tanto os médicos de direita quanto de esquerda, para facilitarem as coisas. São cursos de qualidade ruim, que visam só dinheiro, não formação prática, e as vezes nem teórica.
Como vimos acima, os cursos de qualidade boa, que querem oferecer prática, éticos, foram barrados pelos médicos, tanto de direita e de esquerda.. Os que querem dar estes cursos, justamente por serem éticos, estão fora das panelinhas de médicos de direita e de esquerda. Aí só sobram mesmo os cursos ruins, e estes mecanismos acima apontados nunca são desmontados, jogando-se sempre a culpa no "médico pós-graduado que quis fazer este curso chifrim".
Aí a culpa recai é sobre o pobre mortal, o zé-ninguém do médico que acabou de sair da graduação ? Aí vem a pergunta : o médico comum, recem-saído da Faculdade, para quem não há vagas adequadas disponíveis, é culpado por cair nestas armadilhas montadas tanto pelos empresários ( médicos de direita ) quanto pelo Governo ( médicos de esquerda ) ? Sem ter como aprimorar-se, nós vamos condenar o médico recem-formado, ou interessado, a quem sobrou só a tal “pos-graduaçãozinha” ? Esta situação , médicos fazendo pós-graduações ruins, geram graves distorções na psiquiatria. Aliás, a psiquiatria é justamente a mais escolhida das especialidades médicas para serem pós-graduadas porque é muito difícil diagnosticar e ver as sequelas , baixa-qualidade de vida, mortes, que sua má-prática produz. A má-prática campeia, com inúmeros pacientes sequelados , dopados, demenciados, anulados, com rebaixamento absoluto da qualidade de vida e do prognóstico. Mas, como eu disse, é muito difícil diagnosticar, denunciar e provar as “sequelas da má-prática”, por isto é tão procurada.
Um conselho prático para os médicos que não acham vagas para residência, pelos motivos acima, é o de que acionem suas Associações Médicas de Especialidades para que, acima de interesses mesquinhos dos chefões A ou B, tanto de direita quanto de esquerda, abram cursos éticos e práticos que possam ensinar-lhes. Já há legislação neste sentido, ou seja, que permite a abertura de tais especializações extra-residência, mas esta legislação não é cumprida ( como quase tudo no Brasil ) justamente porque os "grandões das Entidades" impedem a aplicação ética da lei.
Outro conselho : com ou sem especialização , só faça atos médicos que ajudem o paciente, não o piorem, não o cronifiquem, não o sequelem, não o matem. Se você acha que o curso de pós-graduação que você fez não o capacitou bem na prática, não atue ( tem alguns que não capacitam nem na teoria ) . E não julgue-se a si mesmo : "sim, eu sei praticar tal especialidade". Peça que outra pessoa, outro médico especialista, julgue seu trabalho, diga-lhe se você está ou não prejudicando seus pacientes.
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Marcelo Caixeta ( psychological.medicine1@gmail.com)

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