Pesquisar este blog

sexta-feira, junho 21, 2013

FICAR É TÃO BOM! Charles Fonseca

FICAR É TÃO BOM!

Pelo meu jardim andam pousando três aves tucanos, uma ou outra gralha azul, uns periquitos não se dão ao luxo e passam por cima em algazarra. Fiéis mesmo, íntimos, só colibris azulados. E meu cão Freud que fica irritado quando eu saio e não o levo pra passear com ele. Prefiro passear em áreas vazias de casas embora com todas as ruas já asfaltadas e iluminadas num futuro condomínio perto de onde moro. Adolescentes à volta correndo com seus velozes skates. Freud nem liga pra eles. Só pra mim a não ser quando dois ou três cavalos estão a pastar por perto, devem ser um perfume pra ele o cheiro de xiixi de uma égua, tolerável o de um cavalo. Como ele pesa 42 quilos e eu 68 anos acho prudente andar com dois enforcadores que fazem com que quando os puxo ele para imediatamente e o peso dele tende a ficar sob as patas traseiras... Mas há uma técnica: o primeiro enforcador, o que age de imediato, é de plástico resistente que comprei num pet shop; o segundo é uma corrente de aço inoxidável que vai mais frouxo, de reserva. Quebrando o primeiro, o de metal entra logo em ação. Ando com ele com uma guia curta que contem as alças doss enforcadores, usando a mão esquerda. Com a minha mão direita, porto um bastão de madeira, cabo de um desentupidor de pia. Os homens que ao passar por mim nem dão bom dia ou boa tarde, quando estou com Freud, a seis metros já sorriem pra mim e dizem a saudação devida. Acho que é por causa de Freud. Não seria pelos meus aperolados dentes pouco afiados, os melhores chamam-se caninos como os odontólogos dizem. Mas esses que tenho só fazem mordiscar biquinhos, lóbulos de orelhas, pescocinho arrepiado em humanas virtudes. As mulheres têm um comportamento diferente para com meu cão pastor. Dizem, que lindo! Maravilhoso! E outros adjetivos semelhantes. O que ouço respinga em mim. Sorrio para elas incisivamente, os caninos à mostra, desconfio que pré molares e molares até dão o ar de sua graça. À vontade, pode olhar, vou logo dizendo e parando. Se quiser pode até tirar uma foto, acrescento... E quando fotografam, dou o meu cartão com e-mail pedindo que me mandem a foto, lógico que eu ao lado do galã. Raras a que mandam, confesso. Mas o trabalho é prazeroso, as fotos belas. Eu não quero namorar com ninguém mas ando à procura de uma que queira ficar com Freud em visita íntima no seu canil de trinta e seis metros quadrados, piso assoalhado, casinha coberta, água fresquinha, o fotógrafo do idílio sou eu mesmo pra dar prova da ficação. Como ele é filho e neto de campeões no Brasil e Argentina, pedigree, vacinas em dia, a entrada ao harém custa à vista, logo na bilheteria, sete cédulas de 100 reais. Quem se habilita?

Charles Fonseca

Um comentário: