CANTARES DE SOLIDÃO
Um sino toca ao longe:
é tarde no meu sertão
e o vento sopra ao contrário,
seca olho e plantação..
Tão longe o meu pensamento
Tão perto o meu violão
Toada na hora pronóbis
Rebento chegando então.
E as beatas ligeiras
com rosário em mão
rezam ave-marias ,
em dia de procissão.
Eu sou homem assustado:
das sombras tenho receio
Vivo sempre acordado
faço a lua de esteio
Dizem que há lobisomem
atras da serra vermelha
que espreita a hora certeira
de roubar mulher rendeira.
Nessas paragens de sono
de silêncio e ventania
muita mulher foi levada
mode desafiar valentia
Tem jagunço de asfalto
rondando a terra da gente
matando e prendendo rebelde
que desafia tenente.
Tem muito carro e doutor
que desafia a sêca e o cansaço
numa tal transposição
que promete inundar pasto.
Ah! já nem tenho esperança,
foi tanta tarde amarela
tanta poeira na pele
tanta sêde maldita
tanto bezerro morrendo
tanto menino magrinho
tanta morte espreitando
o vale da terra do sino...
E minhas mãos calejadas
pegam balde e água no açude
e mulher é que não falta
todo tempo parindo.
É terra de homem forte
pivete na rua dormindo
menina-moça sem dote
velho sem dente sorrindo..
E o tempo que não passa
a redenção que não chega
meu destino na vidraça
e a sorte na contra-mão.
Um sino toca ao longe
nas tardes do meu sertão.
Marcia Tigani
domingo, junho 16, 2013
Cantares de Solidão. Marcia Tigani
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Poesia
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