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quinta-feira, março 07, 2013

A Marinete

A MARINETE
Charles Fonseca

Não é o nome de mulher. Era o nome do ônibus que diariamente saia de meu povoado onde não havia água encanada, rede de esgoto, luz elétrica, à noite luz das estrelas ou do fifó, uma lamparina. Todo dia a marinete ia e voltava à sede do município. Estrada de barro sem cascalho pelas fazendas. Se chovia, corrente em volta dos pneus para vencer o lamaçal. E lá se ia o Renato , guarda fios dos correios. Nada guardava a não ser ir pelas campinas, beira das matas, olhando o fio do telégrafo pra ver se tinha alguma coisa a ser feita. De usual mesmo só as aves do céu a pousar pelo fio descansando de tanto voar. Quem levava a mala do correio era o motorista da marinete, coisa de grande responsabilidade. Dentro dela as cartinhas de namorados, noivos e assemelhados. Quando muito reservadas, iam seladas e registradas, não iam assim à toa, não. Só nas eleições é que a mala ia guardada por um soldado chamado “praça”, um fuzil à mão, levando os votos dos eleitores, nas cédulas datilografadas o nome dos candidatos a vereador que nesse tempo nada ganhavam a não ser a notoriedade mas esta é outra história, depois eu conto. Dia seguinte, voltava a marinete ao povoado trazendo as notícias, os pertences, tudo em paz, fim da tarde. Sessenta quilômetros de muita luta, afinal vencidos. A tarde caia, o sino dobrava, a Ave Maria.

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