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segunda-feira, janeiro 07, 2013

Arrebenta Mundo. João José da Silva

Arrebenta Mundo
João José da Silva


Aproveitei o silêncio
Duma noite enluarada
Para escrever uma história
Há muitos anos passada
Com o Arrebenta Mundo
E uma pedra encantada
O jovem Arrebenta Mundo
Vivia bem sossegado
Mas vendo o irmão sair
De casa com um machado
Julgou-se ser competente
De também ser um errado

Primeiro disse ao pai
Que tinha dado veneta
De fazer uma viagem
E sua maior tineta
Era de levar consigo
Uma possante marreta

O pai lhe disse: — Viaje
Mas vou lhe recomendar
Quero que mate um milhão
Se acontecer de brigar
Mas se chegar apanhado
Torna de novo apanhar!

— Ora meu pai! eu só temo
O senhor e mais ninguém
Eu por outra temo a Deus
Que vive lá no além
O que há aqui na terra
É mortal como eu também

Portanto dê-me a licença
E adeus até um dia
Com a marreta nas cestas
Viajou com alegria
A qual pesava cem quilos
Porém ele não sentia

Com dez dias de viagem
O grande Arrebenta Mundo
Entrou em uma floresta
Dum precipício ladeando
Que se conserva isento
Das maravilhas do mundo

Mesmo assim o forte moço
Não viu de que se torvar
E no deserto infecundo
Fez-se demais a entrar
Quanto mais ia entrando
Mais via abismo chegar

Mais adiante ele ouviu
Uma voz muito cansada
Dizendo: vivo a cem anos
Numa rocha transformada
Sou a herdeira do reino
Da grande pedra assentada

Aparecendo um guerreiro
Que não vá temer careta
E for no reino da pedra
Com uma forte marreta
Quebrando a pedra terá
A mão da princesa Hileta

Mas para quebrar a pedra
Inda não houve ninguém
Que a fada que a domina
Um poder supremo tem
E ela na bruxaria
Faz tudo que lhe convém

E só desencanta o reino
O que quebrar um sinal
O que tem no pico da pedra
Esse é feito de cristal
Uma obra magnífica
E não artificial

Mas para chegar na pedra
Passa um grande precipício
E de um túnel apertado
Mas quem tiver profelício
Poderá atravessá-lo
Com um grande sacrifício

E chegando na tal pedra
Precisa muito cuidado
Pra só quebrar o sinal
Ele estando esverdeado
Não estando, se bater
É pra morrer machucado

Que aparecerá pedra
Vinda de todo lugar
Ele não pode correr
Nem tem por onde passar
Porque o túnel se fecha
Ele tem que desviar

E o furacão saiu
Ao dito feixe levando
Com oito horas depois
No túnel ele foi deixando
O volume do mistério
E passou tudo virando

Arrebenta Mundo estava
Numa peinha de nada
O feixe estava pelado
Ele de roupa rasgada
A comida que levava
Acabou-se na jornada

No túnel misterioso
Ele conseguiu passar
Ao chegar do outro lado
Cuidou logo em procurar
A dita pedra encantada
Para o sinal quebrar

E quando chegou na pedra
Ao tal sinal procurou
Não o achando afobou-se
A marreta levantou
E descarregou na pedra
Duma pancada a quebrou

Foi mesmo que assanhar
Uma casa de maribondos
O mundo deu três bramidos
E a pedra três estrondos
Depois disso transformou-se
Em dois castelos redondos

Em cima de um dos castelos
Uma fada apareceu
E disse ao outro: machuque
A quem a nós ofendeu
Ele viu que o castelo
Donde estava se ergueu

E veio para esmagá-lo
O rapaz a esperou
Com a sua marreta em punho
E no tal descarregou
Ele que era de pedra
Na marreta se acabou

Ali a fada exclamou:
— Venha pedra em meu socorro
Arrebenta Mundo disse-lhe
— Pode vir que eu não corro
Que hoje aqui eu derroto
Castelo, montanha e morro

— Bandido! — gritou a fada:
— Você é um imbecil!
Pois penetrou neste reino
Com procedimento vil
Mas vai ser subjugado
Tipo nojento infértil

E venha a pedra trovão
A este monstro esmagar
Nisto um trovão gigantesco
Retumbou por sobre o ar
Apareceu uma pedra
Tão grande de assombrar

Ela tinha mais ou menos
Duzentos metros de altura
De redondo tinha o mesmo
Era uma horrenda grossura
Arrebenta Mundo disse:
— Desta eu andava a procura

E deu-lhe uma marretada
Com força do pulso seu
O estrondo foi tão grande
Que a bruta chega gemeu
Com a dor da marretada
Ela ali se derreteu

A fada exclamou: — Maldito!
Seu fim será rigoroso
E venha lutar por mim
O gênio misterioso
E traga o castelo nuvem
Meu rochedo poderoso

Ali quase de momento
Nosso artista viu chegar
Um assombroso rochedo
E contra ele embolar
Fazendo tanta zoada
Que estrondava no ar

O jovem Arrebenta Mundo
Ali meteu-lhe a marreta
Quando bateu estrondou
Dela abriu-se uma gaveta
Saltou um vulto de dentro
Tocando numa corneta

Quando a corneta alarmou
O monte deu um bramido
Na amplidão ecoou
Um ritumbar decidido
Que deixou todo o espaço
Com um manto enegrecido

Enquanto isso a dita pedra
Se conservava parada
O jovem Arrebenta Mundo
Deu-lhe outra marretada
Que jogou-a com cem metros
Ficou lá esfaxiada

Antes ela não virou-se
Vinha outra pedra chegando
Ele tocou-lhe a marreta
Ela foi se esbandalhando
Ele viu outra no ar
Dele já se aproximando

Ele disse: agora eu vou
Demonstrar o meu poder
Só deixo de quebrar pedra
Se Deus não me proteger
E estou me afobando
Pode pedra aparecer

E deu-lhe uma marretada
Que a pedra se sumiu
A fada gritou: — Maldito!
Seu Deus se submergiu
Você agora vai ver
Na vida o que nunca viu

Venha a rainha gigante
Esmagar este maldito
Arrebenta Mundo olhou
Viu descer do infinito
Uma pedra gigantesca
Com um rumor esquisito
Vinha com a maior zoada
Que o trovão quando reboa
Arrebenta Mundo disse:
— Esta é quadra boa
Preparou logo a marreta
E com bravura esperou-a

Antes da pedra chegar
Já tinha sido atingida
Pois ele fez em pedaços
Que logo ali em seguida
Ele viu tanta da pedra
Que quase perde a partida

Começou a chegar pedra
Vinda de baixo da terra
Pedra que vinha de lado
Pedra que vinha da serra
Pedra ia pedra vinha
Igual a tanques de guerra

Estava ele afirmado
Com a marreta na mão
Dava marretada em pedra
Da cinza cobrir o chão
E a mais forte saia
Que só bala de canhão

E danou-se a chegar pedra
E ele se defendendo
Só via pedra chegando
E logo se derretendo
Na marreta do herói
Que estava se lambendo

Ali ele começou
A demonstrar seu talento
Roçava com a marreta
Que assoviava no vento
Com a fumaça das pedras
O mundo ficou cinzento

Ali contra ele vinha
Pedra se escorregando
E vinha pedra correndo
Vinha pedra rebolando
E vinha pedra zunindo
E vinha pedra voando

Arrebenta Mundo viu-se
Dentro do maior perigo
Mas fez-se em sua marreta
Foi castigo por castigo
Quanto mais quebrava pedra
Mais via pedra consigo

Da poeira que saia
Pôs-se o mundo a azular
Ele já casa cansado
Mais batia sem parar
E quanto mais marretava
Mais tinha pra derrotar

Cada vez mais vinha pedra
E ele a tudo quebrando
Antes não quebrava uma
Já vinha outra encostando
E pra onde ele se virasse
Só via pedra chegando

Ele ali manifestou-se
Danou-se logo a quebrar
Pedra com sua marreta
Mas vendo a hora arribar
Porque quanto mais quebrava
Mais via pedra chegar

Já ele estava por tudo
Desconfiou que morria
E danou-se a quebrar pedra
Já sem reparar batia
Quanto mais pedra quebrava
Mais pedra lhe aparecia

De lá a fada gritou-lhe:
— Conheça moço que morre!
Chame lá pelo seu Deus
Veja se ele o socorre
— Bandida! — gritou-lhe o moço
— Este homem aqui não corre

Seu trono de bruxaria
Vou agora derrubar
Pois inda não vi um forte
Para eu não o dominar
Sua força de magia
Hoje vai se acabar

A fada ali riu-se dele
Porque estava segura
Em um castelo de pedra
Duma assombrosa grossura
Que demonstrava um sinal
Numa desmedida altura

E esse grande castelo
Só seria demolido
Se alguém subisse nele
Sem fazer nenhum ruído
E lá quebrar-se o sinal
Do contrário era perdido

Mas para um fazer isso
Era uma coisa impossível
Que as pedras o machucavam
E se ele fosse invencível
Antes de chegar ali
Tudo ficava invisível

Mas como Arrebenta Mundo
De nada disso sabia
Queria vencer no duro
E quando o braço descia
Que a marreta pegava
Numa pedra, derretia

Ele grita para a fada:
— Vou derrubar seu castelo!
Ela tornou galhofar
E gritou: — Venha amarelo!
Que vou mandar derretê-lo
Cara de pinto anelo

Arrebenta Mundo ali
Partiu corajosamente
Pra derrubar o castelo
Da fada mas de repente
Viu tanta pedra chegando
Que interrompia a frente

Ele pôs-se a quebrar pedra
A fim de poder passar
Mas quando quebrava uma
Via ela ali inchar
E quando quebrava outra
Via mais outra chegar

O rapaz ali não pôde
Adiantar mais um passo
Mais ele irado gritou:
— Fada velha eu lhe desgraço
Você vai ver quanto pesa
Minha marreta de aço

Portanto eu já estou perdido
Da vida não quero nada
Indignado jogou
A sua marreta amada
De ponto para o castelo
Que estava a dita fada

A marreta saiu doida
Num rumor descomunal
Quando bateu no castelo
Arrebentou o sinal
O mundo deu um estrondo
Como um dia de final

Arrebenta Mundo ouviu
Uma voz dizer: — Maldito!
Quebraste todo poder
Do meu trabalho bendito
E desencantaste o reino
Mas não como estava escrito

Portanto sejas feliz
Com a princesinha Hileta
E fique chamando ao reino
O Reinado da Marreta
Eu a fada irei viver
Nas Trevas da Águia Preta

Quando Arrebenta Mundo
Olhou viu tudo mudado
Estava num reino e vendo
Em um castelo gravado
O Reinado da Marreta
Um país civilizado

Em frente daquele reino
Havia um grande listano
No tronco tinha um espelho
Nele escrito: É soberano
Daqui, Arrebenta Mundo
Castigador de tirano

Ele pegou no espelho
E com carícia o beijou
Esse espelho de mistério
Logo ali se transformou
Na herdeira da nação
E aos seus pés se prostrou

E pediu pra ele ser
Chefe daquela nação
E por sua gentileza
Aceitasse a sua mão
— Não peça mais! — disse ele
— Que amo-a de coração

Quando ele disse isso
De momento foi levado
Junto com a linda jovem
Para o trono do reinado
E dessa hora em diante
Ele ficou apossado

A princesa era uma órfã
Tinha ali todo direito
E o povo do reinado
Combinou bem satisfeito
Sobre o casamento que
No outro dia foi feito

Quem não acreditar nisso
Cuide em danar-se no mundo
E vá no reino saber
Que ficará oriundo
E poderá encontrar-se
Com esse Arrebenta Mundo

Já demonstrei deste drama
O sucesso principal
Seguirei com perfeição
Isso até o terminal
Levarei contando glória
Vejam que é de vitória
Até o ponto final.

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