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terça-feira, novembro 06, 2012

Pensamentos humoristas. Millôr Fernandes.

Pensadores Humoristas
Millôr Fernandes


(O filósofo tcheco Arnost Kolman disse: "A liberdade de imprensa que vocês têm é apenas no papel."Bertrand Russel respondeu: "Não é o lugar próprio?").


Desculpem, mas todo grande pensador, sobretudo pensador social, é um humorista. O riso explode, à primeira vista, quando uma grande verdade social é enunciada de maneira clara e comunicativa: "Toda propriedade é um roubo" (Proudhom). "Todo lucro é um roubo" (Shaw).

"Que é um assalto a um banco diante de um banco?" (Brecht).

Bertrand Russel também não fez por menos. Pensador nato, gozador nato, desmi(s)tificador nato:

"Se houvesse uma condenação de seis meses pela publicação de cada primeiro livro, só os verdadeiros escritores publicariam suas obras".

"Gladstone, antes de qualquer atitude, sempre consultava a sua consciência. E sua consciência sempre lhe dava a resposta mais conveniente."

"Se um homem te oferece democracia e outro te oferece comida, até que grau de fome você prefere o voto?"

"Muitos casamentos são iguais a um ato de prostituição, só que mais difíceis da gente se livrar deles."

"Fanatismo é a coisa mais perigosa que conheço: chego até a dizer que sou fanático contra o fanatismo."

"Não possuir algumas coisas de que se necessita é parte fundamental da felicidade."

"Um dos maiores triunfos da matemática moderna é ter conseguido descobrir, afinal, o que é a matemática."

"Os chamados Expoentes da Moralidade são pessoas que abandonaram os prazeres comuns e se realizam atrapalhando o prazer dos outros."

"Chama-se pornografia qualquer coisa que escandalize um magistrado senil e ignorante."

"Os filósofos pré-Kant tinham uma grande vantagem sobre os filósofos pós-Kant: não precisavam gastar anos e anos estudando Kant."

"Hegel enuncia sua filosofia de maneira tão obscura que, portanto, só pode ser profunda."

"Sempre achei que as pessoas respeitáveis são canalhas e todo dia me olho ansiosamente no espelho tentando descobrir sinais de minha canalhice."

"Ciência é tudo aquilo que você sabe. Filosofia é tudo aquilo que você não sabe."

"Os homens nascem ignorantes, não estúpidos. Para torná-los estúpidos são necessários anos e anos de educação."

"Aristóteles poderia ter evitado o tremendo erro de afirmar que os homens têm mais dentes do que as mulheres, simplesmente permitindo que madame Aristóteles abrisse a boca."

"As reservas de urânio no mundo são muito pequenas. Teme-se que possam acabar antes mesmo da raça humana."

"Como eu sou pago por palavra, só escrevo palavras bem pequenininhas."

Creio que o único livro humorístico (própriamente dito) escrito por Berthand Russel é The Good Citizen's Alphabet (O Alfabeto do Bom Cidadão), da Gaberbocchus Press, 1953. Sem falar no prefácio de Professor Mmaa's Lecture, de Stefan Themerson, no qual Russel declara:

"O mundo tem gente demais acreditando em coisas demais. Se houvesse menos gente acreditando em menos coisas, talvez tudo fosse melhor."

O Good Citizen's, com desenhos esplêndidos de Franciszka Themerson (mulher de Sthefan?) é apenas um abecedário cívico "não facilmente entendível para quem não tenha capacidade de entendê-lo". Exemplo de algumas definições:

Asneira - O que você pensa.

Bolchevique - Alguém de quem eu discordo.

Diabólico - Aquilo que tem possibilidade de diminuir a renda dos ricos.

Estúpido - Tudo que pode ser verdade.

Injusto - Vantajoso pro outro lado.

Juventude - O que acontece aos velhos quando em movimento.

Liberdade - Direito de obedecer à polícia.

Objetivo - Uma manifestação de loucura quando é compartilhada por vários lunáticos.

Pedante - O sujeito que escreveu este livro.

Revolucionário - Sujeito que serve à humanidade de uma maneira que ela não aprecia.

Sagrado - Aquilo de que os arcebispos não duvidam.

Verdadeiro - Tudo que é aceito pelos examinadores.

Virtude - Submissão ao governo.

Xenofobia - A certeza andorrana de que os andorranos estão com toda razão.

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