Digite uma só palavra no espaço em branco acima

segunda-feira, novembro 05, 2012

A Providência e o escândalo do mal

A PROVIDÊNCIA E O ESCÂNDALO DO MAL

309. Se Deus Pai todo-poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, tem cuidado com todas as suas criaturas, porque é que o mal existe? A esta questão, tão premente como inevitável, tão dolorosa como misteriosa, não é possível dar uma resposta rápida e satisfatória. É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta questão: a bondade da criação, o drama do pecado, o amor paciente de Deus que vem ao encontro do homem pelas suas alianças, pela Encarnação redentora de seu Filho, pelo dom do Espírito, pela agregação à Igreja, pela força dos sacramentos, pelo chamamento à vida bem-aventurada, à qual as criaturas livres são de antemão convidadas a consentir, mas à qual podem, também de antemão, negar-se, por um mistério terrível. Não há nenhum pormenor da mensagem cristã que não seja, em parte, resposta ao problema do mal.

310. Mas, porque é que Deus não criou um mundo tão perfeito que nenhum mal pudesse existir nele? No seu poder infinito, Deus podia sempre ter criado um mundo melhor (149). No entanto, na sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um mundo «em estado de caminho» para a perfeição última. Este devir implica, no desígnio de Deus, juntamente com o aparecimento de certos seres, o desaparecimento de outros; o mais perfeito, com o menos perfeito; as construções da natureza, com as suas destruições. Com o bem físico também existe, pois, o mal físico, enquanto a criação não tiver atingido a perfeição (150).

311. Os anjos e os homens, criaturas inteligentes e livres, devem caminhar para o seu último destino por livre escolha e amor preferencial. Podem, por conseguinte, desviar-se. De facto, pecaram. Foi assim que entrou no mundo o mal moral, incomensuravelmente mais grave que o mal físico. Deus não é, de modo algum, nem directa nem indirectamente, causa do mal moral (151). No entanto, permite-o por respeito pela liberdade da sua criatura e misteriosamente sabe tirar dele o bem:

«Deus todo-poderoso [...] sendo soberanamente bom, nunca permitiria que qualquer mal existisse nas suas obras se não fosse suficientemente poderoso e bom para do próprio mal, fazer surgir o bem» (152).

312. Assim, com o tempo, é possível descobrir que Deus, na sua omni­potente Providência, pode tirar um bem das consequências dum mal (mesmo moral), causado pelas criaturas: «Não, não fostes vós – diz José a seus irmãos – que me fizestes vir para aqui. Foi Deus. [...] Premeditastes contra mim o mal: o desígnio de Deus aproveitou-o para o bem [...] e um povo numeroso foi salvo» (Gn, 45, 8; 50, 20) (153). Do maior mal moral jamais praticado, como foi o repúdio e a morte do Filho de Deus, causado pelos pecados de todos os homens, Deus, pela superabundância da sua graça (154), tirou o maior dos bens: a glorificação de Cristo e a nossa redenção. Mas nem por isso o mal se transforma em bem.

313. «Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus» (Rm 8, 28). O testemunho dos santos não cessa de confirmar esta verdade:

Assim, Santa Catarina de Sena diz aos «que se escandalizam e se revoltam contra o que lhes acontece»: «Tudo procede do amor, tudo está ordenado para a salvação do homem, e não com nenhum outro fim» (155).

E S. Tomás Moro, pouco antes do seu martírio, consola a filha com estas palavras: «Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito mau que nos pareça, é, na verdade, muito bom»(156).

E Juliana de Norwich: «Compreendi, pois, pela graça de Deus, que era necessário ater-me firmemente à fé [...] e crer, com não menos firmeza, que todas as coisas serão para bem [...]». «Thou shalt see thyself that all manner of thing shall be well» (157).

314. Nós cremos firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Muitas vezes, porém, os caminhos da sua Providência são-nos desconhecidos. Só no fim, quando acabar o nosso conhecimento parcial e virmos Deus «face a face» (1 Cor 13, 12), é que nos serão plenamente conhecidos os caminhos pelos quais, mesmo através do mal e do pecado, Deus terá conduzido a criação ao repouso desse Sábado (158) definitivo, em vista do qual criou o céu e a terra.

Resumindo:

315. Na criação do mundo e do homem, Deus deu o primeiro e universal testemunho do seu amor omnipotente e da sua sabedoria e fez o primeiro anúncio do seu «desígnio amoroso», o qual tem como finalidade a nova criação em Cristo.

316. Embora a obra da criação seja particularmente atribuída ao Pai, é igualmente verdade de fé que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são o único e indivisível princípio da criação.

317. Só Deus criou o Universo, livremente, directamente, sem qualquer ajuda.

318. Nenhuma criatura possui o poder infinito necessário para «criar», no sentido próprio da palavra: quer dizer; para produzir e dar o ser ao que de modo algum o possuía (chamar à existência «ex nihilo» a partir do nada) (159).

319. Deus criou o mundo para manifestar e comunicar a sua glória. Que as criaturas partilhem da sua verdade, da sua bondade e da sua beleza – eis a glória, para a qual Deus as criou.

320. Deus, que criou o universo, mantém-no na existência pelo seu Verbo; «o Filho tudo sustenta com a sua palavra poderosa» (He 1, 3) e pelo seu Espírito criador que dá a vida.

321. A divina Providência consiste nas disposições pelas quais Deus conduz, com sabedoria e amor; todas as criaturas, para o seu último fim.

322. Cristo convida-nos a abandonarmo-nos filialmente à Providência do Pai dos céus (160); o apóstolo São Pedro retoma o seu pensamento ao dizer: «Lançai sobre Deus toda a vossa inquietação porque Ele vela por vós» (1 Pe 5, 7)(161).

323. A Providência divina também age pela acção das criaturas. Aos seres humanos, Deus permite-lhes cooperar livremente com os seus desígnios.

324. A permissão divina do mal físico e do mal moral é um mistério, que Deus esclarece por seu Filho Jesus Cristo, morto e ressuscitado para vencer o mal. A fé dá-nos a certeza de que Deus não permitiria o mal, se do próprio mal não fizesse sair o bem, por caminhos que só na vida eterna conheceremos plenamente.

Catecismo

Nenhum comentário:

Postar um comentário