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segunda-feira, julho 30, 2012

Ele é poeta

ELE É POETA


É noite. A chuva chora na calçada
como se fosse a mágoa recalcada
que subisse do peito dos humanos
e retumbasse em lágrimas na terra. 

Minha mãe chora, 
chora os desenganos de um filho 
que é poeta e desgraçado.
“Meu Deus! Onde andará ele agora?
Erra pela cidade úmida e deserta, 
como um boêmio despreocupado”.

E, recostada à janela aberta,
minha mãe espia a rua e espera:
“Hoje por certo virá mais cedo.
Faz tanto frio, sinto tanto medo...”
E, fatigada com uma dor no coração,
pensa em Deus e faz uma triste oração:
“Oh, Jesus, pastor divino,
tem misericórdia de mim, Senhor!
Traze o meu filho, o meu pobre filho
que erra pela cidade sem fim".

Um vulto! Talvez seja ele... mas... não, não é.
E já desponta cálido o sol.
Meus olhos fatigados de vigília não descansarão jamais.
Mas tenho fé. Amanhã eu lhe direi raivosa, assim:
“Você é a ovelha má desta família. 
Não é mais meu!”
Mas... ai que vida de abrolhos!
Não posso dizer assim. Ele é tão bom, tão delicado, 
que se eu disser em tom zangado, 
encontrarei nele o mesmo sorriso de menino
e uma lágrima boiando-lhe nos olhos.
Coitado de meu filho, arte abjeta, 
pobre do meu filho, ele é poeta!


(autor desconhecido)

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