sexta-feira, junho 22, 2012

“Um Conto Chinês”

“Um Conto Chinês”


Cena inicial: um casal de jovens noivos chineses, um lago, uma promessa e uma vaca! Cai do céu e destroça tudo. Corta para uma pequena loja de ferragens no meio de uma Buenos Aires envelhecida, carcomida e cinza. Dentro dela o sujeito mais chato do mundo. Cheio de manias, irascível, contando parafusos.


Só que esse sujeito é o fantástico ator Ricardo Darin. Não há filme ruim com ele. Argentino de 55 anos, compõe personagens ricos e diversos e tem “una mirada que me mata”, segundo a outra personagem, Mari. Falta apenas o chinezinho que é praticamente lançado na vida dele, o Jun.


Vida metódica, isolado, triste. Órfão de pai e mãe, um passado tão forte, pode até machucar. E o invasor não fala absolutamente nada de espanhol e Roberto, menos ainda de cantonês. Sua rotina torna-se um caos, dentro da ordenação de dormir exatamente as onze da noite, de comprar presentes de aniversário para a mãe que nem conheceu... E tentar dar casa e comida para um coitado que quer achar o tio e começar uma nova vida.


O filme é simples. Piadas sutis e bem colocadas, o drama do abandono –que diga-se de passagem- que ambos vivem. O isolamento das pessoas e o medo que elas têm de apenas dividir, que seja um minuto, um prato de comida, uma conversa. Quanto mais a mesma casa, banheiro e funções.


Segue-se a saga de tentar encontrar um lar para o chinês. E com isso, o coração de Roberto vai se abrindo, com o constante assédio da Mari, com quem teve tórridos momentos num passado recente. Você vai adorar as visitas na embaixada, e também o insólito diálogo de Roberto e reação ainda mais do que imprevisível com o guarda.


Os risos vão se sucedendo de maneira sutil, delicada. Assim como as modificações que o ator Darin faz no seu personagem. Ele constrói como artesão cada cena, cada olhada e cada reação. Não tem como não se encantar com o personagem e também com o roteiro criativo e bem filmado do diretor –anotem esse nome - Sebastián Borensztein. E as revelações vão chegando, também.


O final é uma discussão sobre o absurdo e até filosoficamente, como a vida transcorre. Desenhos belíssimos feitos pelo chinês, e um reencontro mais do que esperado, libertando Roberto.


O que há de bom: ator fora-do-comum, roteiro inteligente e filme correto na duração apenas uma hora e meia, sem “encher lingüiça”

O que há de ruim: eu estudo mandarim e vou feliz para ouvir algo que eu compreenda e ele me fala em cantonês!

O que prestar atenção: os argentinos nunca temem falar de suas dores, tais como a Guerra das Malvinas e a perda do poder aquisitivo em geral, da população

A cena do filme: ele respondendo o outro tão enjoado quanto ele, no momento de mais uma compra

Cotação: filme ótimo (@@@@)

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