sábado, março 10, 2012

Hebréia

HEBRÉIA
Castro Alves

Pomba d'esperança sobre um mar d'escolhos!
Lírio do vale oriental, brilhante!
Estrela vésper do pastor errante!
Ramo de murta a recender cheirosa! ...

Tu és, ó filha de Israel, formosa...
Tu és, ó linda, sedutora Hebréia...
Pálida rosa da infeliz Judéia
Sem ter o orvalho, que do céu deriva!

Por que descoras, quando a tarde esquiva
Mira-se triste sobre o azul das vagas?
Serão saudades das infindas plagas,
Onde a oliveira no Jordão se inclina?

Sonhas acaso, quando o sol declina,
A terra santa do Oriente imenso?
E as caravanas no deserto extenso?
E os pegureiros da palmeira à sombra?! ...

Sim, fora belo na relvosa alfombra,
Junto da fonte, onde Raquel gemera,
Viver contigo qual Jacó vivera
Guiando escravo teu feliz rebanho...

Depois nas águas de cheiroso banho
Como Susana a estremecer de frio
Fitar-te, ó flor do babilônio rio,
Fitar-te a medo no salgueiro oculto...

Vem pois! ... Contigo no eserto inculto,
Fugindo às iras de Saul embora,
Davi eu fora, se Micol tu foras,
Vibrando na harpa do profeta o canto...

Não vês? ... Do seio me goteja o pranto
Qual da torrente do Cédron deserto! ...
Como lutara o patriarca incerto
Lutei, meu anjo, mas caí vencido.

Eu sou o lótus para o chão pendido.
Vem ser o orvalho oriental, brilhante! ...
Ai! guia o passo ao viajor perdido,
Estrela vésper do pastor errante! ...

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