A
LUVA
Schiller
No jardim dos leões , para assistir à luta,
O imperador galeia. Em derredor se escuta
A côrte a sussurrar. Sob as
mantas escuras,
Junto ao trono , reluz o arnês das armaduras,
Enquanto
nos balcões, em volta, descortina
A sêda de os dosséis a graça feminina.
O augusto imperador com os dedos fez sinal,
E, emperrado, a ranger nos
gonzos, o portal
Lentamente se abriu, e, majestoso, assoma,
Abrindo a
goela enorme e sacudindo a coma,
Um vulto silencioso. Agita-se a bancada,
Inquieta se debruça a côrte entusiasmada,
E o fulvo caçador das selvas,
o leão,
Com os olhos em fogo espreita a multidão.
Até que enfim descansa
os músculos na arena.
Do trono, o imperador mais outra vez acena ;
E um
segundo portão se escancarando, em frente,
Deixa um tigre sair, aos saltos,
de repente ;
Ele fita rugindo o rei dos animais,
Lambe-lhe a rubra
língua os dentes colossais,
E a cauda mosqueada e forte, que serpeia,
Açoita devagar a palidez da areia .
Rodeia enraivecido ao grande leão
deitado,
E, engrolando um rugido, estira-se a seu lado.
Pela terceira
vez o imperador acena ;
Ao seu gesto recua uma grade pequena,
E a rugir
e a saltar, pintalgados e pardos,
Lançam-se de uma vez da jaula dois
leopardos.
Engrifam-se ante o tigre, e, arqueando o dorso hirsuto,
Aferventam, bufando, a cólera do bruto,
Que, encolhido nos rins,
projeta-se e com a garra
Volteando no ar, veloz, os leopardos agarra.
E
ruge o leão soerguendo o pescoço jubado,
Olhando os dois no chão do circo
ensangüentado.
Nas bóbedas restruge em ecos o alarido
E entre as
aclamações do povo erra pedido.
Aí, do peitoril florido de um balcão,
Uma luva caiu de encantadora mão,
E, como por querer, caiu exatamente
Entre o vulto do tigre e o do leão horrente.
E Cunegundes bela,a sorrir
de ironia,
A um jovem vigoroso e esbelto lhe dizia :
"Se é verdade que é
tão ardente e tão vibrante,
O amor que proclamais a todo e todo instante,
Cavalheiro Delorge, alevantai do chão
A luva que caiu a pouco desta
mão."
A sentença fatal apenas ele ouvia
E já o podiam ver descendo a
escadaria
Que dava para o circo; e, sem voltar o rosto,
Sem olhar para
trás, com o semblante composto,
Com as fidalgas feições serenas e severas,
Nos dedos levantou a luva junto às feras.
E, da mesma expressão
indiferente e fria,
Escutava ao subir, de volta, a escadaria,
Entre as
damas gentis e os nobres de valor,
Um murmúrio correr de pasmo em seu
louvor.
O sorriso da bela,amável,lhe assegura
Num próximo futuro a
próxima ventura.
Mas Delorge,orgulhoso,antegozando a ofensa :
"Eu
rejeito, senhora, a vossa recompensa".
Com um sombrio prazer nos olhos
cintilantes,
Ia partir, porém, tardou ainda, e, antes
De deixar para
sempre aquela que ele amara,
A luva lhe atirou, com força, em plena cara
.
quarta-feira, fevereiro 08, 2012
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