O LAÇO DE FITA
Castro Alves
Não sabes, criança? 'Stou louco de
amores...
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no
espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.
Na selva
sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos da moça bonita,
Fingindo a
serpente qu'enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de
fita.
Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que
os ares agita,
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
Num
laço de fita.
E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh'alma se
embate, se irrita...
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus
elos,
Ó laço de fita!
Meu Deus! As falenas têm asas de opala,
Os
astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas
brilhantes...
Mas tu... tens por asas
Um laço de fita.
Há pouco
voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que
é que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te apenas...
Teu laço de
fita.
Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N'alcova onde a vela
ciosa... crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu... fico
preso
No laço de fita.
Pois bem! Quando um dia na sombra do
vale
Abrirem-me a cova... formosa Pepita!
Ao menos arranca meus louros da
fronte,
E dá-me por c'roa...
Teu laço de fita.
quinta-feira, novembro 24, 2011
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