TECENDO A MANHÃ
João Cabral de Melo Neto.
1. Um galo sozinho não tece
uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse
grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um
galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros
galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã,
desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
2. E se
encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se
entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de
armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva
por si: luz balão.
sábado, setembro 24, 2011
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