VIDA DE FLOR
Fagundes Varela
Porque vergas-me a fronte sobre a
terra?
- Diz a flor da colina ao manso vento
- Se apenas das manhãs o doce
orvalho
Hei gozado um momento!
Tímida ainda, nas folhagens
verdes
Abro a corola à quietação das noites,
Ergo-me bela, me rebaixas
triste
Com teus feros açoites!
Oh! deixa-me crescer, lançar
perfumes,
Vicejar das estrelas à magia,
Que minha vida pálida se
encerra
No espaço de um só dia!
MAs o vento agitava sem piedade
A
fronte virgem da cheirosa flor,
Que pouco a pouco se tingia, triste,
De
mórbido palor.
Não vês, oh brisa? lacerada, - murcha
Tão cedo ainda
vou pendendo ao chão,
E em breve tempo esfolharei já morta
- Sem chegar ao
verão?
Oh tem pena de mim! deixa-me ao menos
Desfrutar um momento de
prazer,
Pois que é meu fado despontar n'aurora
E ao crepúsc'lo
morrer!...
Brutal amante não lhe ouviu as queixas,
Nem às suas dores
atenção prestou,
E a flor mimosa retraindo pétalas
Na tige se
inclinou.
Surgiu n'aurora, não chegou à tarde,
Teve um momento de
existência só;
A noite veio, - procurou por ela,
Mas a encontrou no
pó.
Ouviste, oh virgem, a legenda triste
Da flor do outeiro e seu
funesto fim,
- Irmã das flores, à mulher às vezes -
Também sucede assim.
sábado, agosto 13, 2011
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