quarta-feira, agosto 03, 2011

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CARÊNCIAS
Gleide R. Fonseca M. Souza

Não vos preocupeis; 
nem plebeus, nem reis.
"Minhas" carências,
não dizem respeito 
a algo ou alguém,
mas a um estado de "deficiência",
no qual me encontrei.
Tenho preferido assim ficar, 
pelo menos, por mais um tempo;
Exigente, perfeccionista, 
talvez seja eu;
mas bem sei que é muito caro
o preço que tenho a pagar,
por aquilo que anseio!
por aquilo que sonhei!!
por aquilo que serei!!!






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CASTA
Charles Fonseca

Ora, vens com elogio
Ao meu cão e agradeço
É amor que não tem preço
Nas minha noites vadio

Uivo qual um cão ao céu
Tremo eu em arrepio
Noite de inverno, de frio,
Alma de amante ao léu

Sei que estás, dama da noite,
A seduzir cão incauto
A luzir nua céu alto
Ventania em açoite

A minha alma vergasta
Qual cão, noite de estio,
Levo a ti no desvario
Meu gemer em gozo, casta.




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O BRASIL EXPLICADO EM GALINHAS


Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e o levaram para a delegacia.D - DelegadoL - Ladrão
D - Que vida mansa, heim, vagabundo? Roubando galinha para ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!
L - Não era para mim não. Era para vender.
D - Pior, venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!
L - Mas eu vendia mais caro.
D - Mais caro?
L - Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas galinhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons.
D - Mas eram as mesmas galinhas, safado.
L - Os ovos das minhas eu pintava.
D - Que grande pilantra... (mas já havia um certo respeito no tom do delegado...)
D - Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega...
L - Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiros a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio..
D - E o que você faz com o lucro do seu negócio?
L - Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.
O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:
D - Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?L - Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior.D - E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?
L - Às vezes. Sabe como é.
D - Não sei não, excelência. Me explique.
L - É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa. O risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora fui preso, finalmente vou para a cadeia. É uma experiência nova. 

D - O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.
L - Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!
D - Sim. Mas primário, e com esses antecedentes...

Luis Fernando Veríssimo.




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QUEBRANTO

Charles Fonseca



Vario a não me deixar ao não lugar
Vazio não me fica ôco o peito
Vago pra lá pra cá, já sem um eixo
Varo com o olhar distante o além mar

O mar revolto na praia quebrando
O vento a ciciar velhas lembranças
A lua a refletir em suas andanças
Lembram-me, há um novo sol, adeus quebranto!

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