Pesquisar este blog

terça-feira, agosto 23, 2011



A corrupção se alastrou capilarmente, sem distinguir limites públicos ou privados. Não é de hoje que ouço histórias sobre clínicas e hospitais particulares inescrupulosos que retêm pacientes nos centros de tratamento intensivo (CTI) além do necessário.
Trata-se de um "sequestro" que permite o uso de um paciente para obtenção de um "resgate" vultoso, via seu plano ou seguro de saúde. Mesmo expondo o enfermo à depressão e ao perigo de infecção hospitalar.
O objetivo compensa: cobrança máxima na hora de fechar a conta. Ou seja, nesses casos uma internação prolongada em CTI serve apenas para "faturar" o leito disponível até aparecer uma próxima vítima para ocupar a vaga.
Resta ao familiar que percebe o procedimento indignar-se silenciosamente, sem ter como provar o "malfeito". Ou lamentar num ombro amigo a maneira pela qual um ente querido gravemente doente (ou não) foi tratado: como uma valiosa mercadoria. Indecente, imoral, desumano? Tudo isso mais a questão do ato em si: criminoso.
Há também narrativas nas quais, o que acontece, é o oposto: pessoas internadas não são cuidadas intensivamente por falta de cobertura do plano ou seguro.
Conclusão. Alguém que adoeça sem condições de acesso a médicos e hospitais de primeira linha (leia-se competentes e honestos) corre o risco de se tornar vítima de algum esquema pernicioso. No qual será tratado como moeda. Ou apenas número, mina, peça de jogo... Qualquer coisa, menos como uma pessoa em sofrimento.
Neste último domingo, o Globo mostrou com a reportagem "Clínicas pagam propina para receber pacientes", de Fabíola Berbase, que a sensação corrente não é paranóia. Na realidade, não dá para facilitar. Principalmente, no caso de se precisar recorrer ao serviço de UTIs móveis credenciado em algum plano de saúde.
Sabe por quê? Clínicas e hospitais de pequeno e médio porte do Rio (até em Ipanema!) pagam propinas a técnicos de enfermagem e médicos de ambulância que encaminharem pacientes aos seus quartos e centros de tratamento intensivo. Cada doente vale entre R$ 50 e R$ 600, dependendo do reembolso da seguradora, do tempo de internação e da gravidade do caso.
E se houver comprovação de que a vítima foi internada sem precisar? Segundo o advogado Breno Melaragno, conselheiro da OAB-RJ em direito penal, os envolvidos podem ser punidos por estelionato contra os planos particulares e por crime contra a saúde pública. Pelo menos, a repórter Fabíola fez sua parte.








O BICHO ALFABETO TEM VINTE E TRÊS PATAS.
Paulo Leminski
O bicho alfabeto
Tem vinte e três patas
Ou quase
Por onde ele passa
Nascem palavras e
Frases
Com frases
Se fazem asas
Palavras
O vento leve
O bicho alfabeto
Passa
Fica o que não se escreve



O psiquiatra e psicanalista gaúcho Sergio Paulo Ramos nos lembra que o ser humano é cada vez menos tolerante com a dor. Segundo ele, no dia a dia, "qualquer coisa: calmante". (Entrevista ao programa RodaViva, na TV Cultura, de 22.8.2011).
Cultuamos a beleza do corpo, que não pode doer.
Celebramos a força da mente, que não pode sofrer.
É claro que a dor deve ser evitada.
Se a dor nos vem, cabe-nos lutar para que vá.
Nesta luta, não pode caber como arma o uso ou abuso da droga, venha embalada em cigarro, álcool, maconha ou calmante, porque a vitória buscada será, na verdade, a derrota garantida.
Reconheçamos que as pessoas felizes não são felizes os dias todos. Mesmo as pessoas realizadas vivenciam frustrações. Mesmo os fortes se sentem fracos. Mesmo os que dormem bem conhecem a insônia.
Entre as formas de enfrentar a dor, está a busca da sua pedagogia. Ela não veio para nos ensinar. A dor tem vida própria e não tem qualquer finalidade. No entanto, nós começamos a controlá-la quando aprendemos com ela . 

Israel Belo de Azevedo


NOFRI, Andrea
Italian sculptor (b. 1388, Firenze, d. ca. 1455, Firenze)

Clique na imagem.







Audiência no Senado Federal - Parte 14 RUY BRITO - Considerações finais

Nenhum comentário:

Postar um comentário