Museu do Prado, Madrid
Alincbrot, Louis
(1400-10, Bruges - 1460) Valencia.
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Por que os brasileiros não
reagem?
JUAN ÁRIAS
O fato de que
em apenas seis meses de governo a presidente Dilma Rousseff tenha tido que afastar dois ministros importantes, herdados do gabinete de
seu antecessor Luiz Inácio Lula da
Silva (o da Casa Civil da Presidência, António Palocci — uma espécie de
primeiro-ministro — e o dos Transportes, Alfredo Nascimento), ambos
caídos sob os escombros da corrupção
política, tem feito sociólogos se
perguntarem por que neste país, onde
a impunidade dos políticos corruptos
chegou a criar uma verdadeira
cultura de que "todos são ladrões" e
que "ninguém vai para a
prisão", não existe o
fenômeno, hoje em moda no
mundo, do movimento dos
indignados.
Será que os
brasileiros não sabem
reagir à hipocrisia e à falta de ética de muitos dos que os
governam? Não lhes importa
que tantos políticos que
os representam no governo, no Congresso, nos
estados ou nos municípios
sejam descarados salteadores do
erário público? É o que se perguntam não poucos analistas e blogueiros
políticos.
Nem sequer
os jovens, trabalhadores ou
estudantes, manifestaram até agora a
mínima reação ante a corrupção daqueles que os governam.
Curiosamente, a mais irritada diante do saque
às arcas do Estado parece ser a
presidente Rousseff, que tem mostrado
publicamente seu desgosto pelo "descontrole" atual em áreas do seu governo e tirou literalmente
— diz-se que a purga ainda não acabou — dois
ministros-chave, com o agravante de que eram herdados do seu antecessor, o popular ex-presidente
Lula, que teria pedido que os mantivesse no seu
governo.
A imprensa
brasileira sugere que Rousseff começou — e o preço que terá que
pagar será elevado — a se desfazer de uma certa "herança maldita" de hábitos de corrupção que vêm do passado. E as pessoas das
ruas, por que não fazem eco ressuscitando também aqui o movimento dos
indignados? Por que não se mobilizam as redes sociais? O Brasil,
que, motivado pela chamada marcha das Diretas Já (uma campanha política levada a cabo durante os anos 1984 e 1985, na qual
se reivindicava o direito de eleger o presidente do país pelo voto direto), se lançou nas ruas
contra a ditadura militar para pedir eleições, símbolo da democracia, e também o fez para obrigar o
ex-presidente Fernando Collor
de Mello (1990-1992) a deixar a Presidência da República, por causa das acusações de corrupção que
pesavam sobre ele, hoje está mudo
ante a corrupção.
As únicas
causas capazes de levar às ruas até dois milhões de pessoas são a dos
homossexuais, a dos seguidores das
igrejas evangélicas na celebração a
Jesus e a dos que pedem a liberalização da maconha.
Será que os
jovens, especialmente, não têm
motivos para exigir um Brasil não só mais rico a cada dia ou, pelo menos,
menos pobre, mais desenvolvido, com
maior força internacional, mas
também um Brasil menos corrupto em suas esferas políticas, mais justo,
menos desigual, onde um vereador não ganhe até dez vezes mais que um
professor e um deputado cem vezes
mais, ou onde um cidadão comum depois de 30 anos de trabalho se aposente com 650
reais (300 euros) e um
funcionário público com até 30 mil reais (13 mil euros).
O Brasil
será em breve a sexta potência
econômica do mundo, mas segue atrás na
desigualdade social, na defesa dos direitos humanos, onde a mulher ainda não tem o direito de abortar, o desemprego das pessoas
de cor é de até 20%, frente a 6% dos brancos, e a polícia é uma das que mais matam
no mundo.
Há quem
atribua a apatia dos jovens em ser protagonistas de uma
renovação ética no país ao fato de que uma propaganda bem
articulada os teria convencido de que o Brasil é hoje invejado por meio
mundo, e o é em outros aspectos. E que a retirada da pobreza de 30
milhões de cidadãos lhes teria feito acreditar que tudo vai bem,
sem entender que um cidadão de classe média
europeia equivale ainda hoje a um brasileiro
rico.
Outros
atribuem o fato à tese de que os
brasileiros são gente pacífica, pouco dada aos
protestos, que gostam de viver felizes
com o muito ou o pouco que têm e que
trabalham para viver em vez de viver
para trabalhar.
Tudo isso também é certo, mas não explica
que num mundo globalizado — onde
hoje se conhece instantaneamente tudo o que ocorre no planeta,
começando pelos movimentos de protesto
de milhões de jovens que pedem
democracia ou a acusam de estar degenerada
— os brasileiros não lutem para que o país, além de enriquecer,
seja também mais justo, menos
corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os
níveis.
Este Brasil,
com o qual os honestos sonham deixar como herança a seus filhos
e que — também é certo – é ainda um país onde sua gente não perdeu o gosto de desfrutar o que possui,
seria um lugar ainda melhor se
surgisse um movimento de indignados
capaz de limpá-lo das escórias de
corrupção que abraçam hoje todas as esferas
do poder.
JUAN ÁRIAS é correspondente do jornal "El País", de Madri, no Rio de
Janeiro. © El País
Saulo Moura. Violoncelista.
Clique:http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1556161-7823-MAESTRO+ROBERTO+DUARTE+REGE+A+ORQUESTRA+FILARMONICA+DO+ES,00.html
O futuro do PT (Lucia
Hippolito)
O PT nasceu de cesariana, há 29 anos. O pai foi
o movimento sindical, e a mãe, a Igreja Católica, através das Comunidades
Eclesiais de Base.
Os orgulhosos padrinhos foram, primeiro, o
general Golbery do Couto e Silva, que viu dar certo seu projeto de dividir a
oposição brasileira.
Da árvore frondosa do MDB nasceram o PMDB, o PDT, o
PTB e o PT... Foi um dos únicos projetos bem-sucedidos do desastrado
estrategista que foi o general Golbery.
Outros orgulhosos padrinhos foram os intelectuais,
basicamente paulistas e cariocas, felizes de poder participar do crescimento e
um partido puro, nascido na mais nobre das classes sociais, segundo eles: o
proletariado.
O PT cresceu como criança mimada, manhosa, voluntariosa e birrenta. Não gostava do capitalismo, preferia o socialismo. Era revolucionário. Dizia que não queria chegar ao poder, mas denunciar os erros das elites brasileiras.
O PT lançava e elegia candidatos, mas não "dançava conforme a música". Não fazia acordos, não participava de coalizões, não gostava de alianças. Era uma gente pura, ética, que não se misturava com picaretas.
O PT entrou na juventude como muitos outros jovens: mimado, chato e brigando com o mundo adulto.
Mas nos estados, o partido começava a ganhar prefeituras e governos, fruto de alianças, conversas e conchavos. E assim os petistas passaram a se relacionar com empresários, empreiteiros, banqueiros.
Tudo muito chique, conforme o figurino.
E em 2002 o PT ingressou finalmente na maioridade. Ganhou a presidência da República. Para isso, teve que se livrar de antigos companheiros, amizades problemáticas. Teve que abrir mão de convicções, amigos de fé, irmãos camaradas.
A primeira desilusão se deu entre intelectuais. Gente da mais alta estirpe, como Francisco de Oliveira, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho se afastou do partido, seguida de um grupo liderado por Plinio de Arruda Sampaio Junior.
Em seguida, foi a vez da esquerda. A expulsão de Heloisa Helena em 2004 levou junto Luciana Genro e Chico Alencar, entre outros, que fundaram o PSOL.
Os militantes ligados a Igreja Católica também começaram a se afastar, primeiro aqueles ligados ao deputado Chico Alencar, em seguida, Frei Betto.
E agora, bem mais recentemente, o senador Flávio Arns, de fortíssimas ligações familiares com a Igreja Católica.
Os ambientalistas, por sua vez, começam a se retirar a partir do desligamento da senadora Marina Silva do partido.
Afinal, quem do grupo fundador ficará no PT? Os sindicalistas.
Por isso é que se diz que o PT está cada vez mais parecido com o velho PTB de antes de 64.
Controlado pelos pelegos, todos aboletados nos ministérios, nas diretorias e nos conselhos das estatais, sempre nas proximidades do presidente da República.
Recebendo polpudos salários, mantendo relações delicadas com o empresariado. Cavando benefícios para os seus. Aliando-se ao coronelismo mais arcaico, o novo PT não vai desaparecer, porque está fortemente enraizado na administração pública dos estados e municípios. Além do governo federal, naturalmente. É o triunfo da pelegada.
Lucia Hippolito
O PT cresceu como criança mimada, manhosa, voluntariosa e birrenta. Não gostava do capitalismo, preferia o socialismo. Era revolucionário. Dizia que não queria chegar ao poder, mas denunciar os erros das elites brasileiras.
O PT lançava e elegia candidatos, mas não "dançava conforme a música". Não fazia acordos, não participava de coalizões, não gostava de alianças. Era uma gente pura, ética, que não se misturava com picaretas.
O PT entrou na juventude como muitos outros jovens: mimado, chato e brigando com o mundo adulto.
Mas nos estados, o partido começava a ganhar prefeituras e governos, fruto de alianças, conversas e conchavos. E assim os petistas passaram a se relacionar com empresários, empreiteiros, banqueiros.
Tudo muito chique, conforme o figurino.
E em 2002 o PT ingressou finalmente na maioridade. Ganhou a presidência da República. Para isso, teve que se livrar de antigos companheiros, amizades problemáticas. Teve que abrir mão de convicções, amigos de fé, irmãos camaradas.
A primeira desilusão se deu entre intelectuais. Gente da mais alta estirpe, como Francisco de Oliveira, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho se afastou do partido, seguida de um grupo liderado por Plinio de Arruda Sampaio Junior.
Em seguida, foi a vez da esquerda. A expulsão de Heloisa Helena em 2004 levou junto Luciana Genro e Chico Alencar, entre outros, que fundaram o PSOL.
Os militantes ligados a Igreja Católica também começaram a se afastar, primeiro aqueles ligados ao deputado Chico Alencar, em seguida, Frei Betto.
E agora, bem mais recentemente, o senador Flávio Arns, de fortíssimas ligações familiares com a Igreja Católica.
Os ambientalistas, por sua vez, começam a se retirar a partir do desligamento da senadora Marina Silva do partido.
Afinal, quem do grupo fundador ficará no PT? Os sindicalistas.
Por isso é que se diz que o PT está cada vez mais parecido com o velho PTB de antes de 64.
Controlado pelos pelegos, todos aboletados nos ministérios, nas diretorias e nos conselhos das estatais, sempre nas proximidades do presidente da República.
Recebendo polpudos salários, mantendo relações delicadas com o empresariado. Cavando benefícios para os seus. Aliando-se ao coronelismo mais arcaico, o novo PT não vai desaparecer, porque está fortemente enraizado na administração pública dos estados e municípios. Além do governo federal, naturalmente. É o triunfo da pelegada.
Lucia Hippolito
Bakunin
–> “Assim,
sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se
ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares
se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas,
compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão
logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários
e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais
representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem
duvida disso não conhece a natureza humana”.
Entre cachorros encontrei um amigo. Freud.
Concierto Voces para la Paz 2001 Teatro Monumental.
Madrid 21 Enero 2001.
Director: Miguel Roa
Clique: http://youtu.be/6iu124sQxWM
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