Laranjeiras Sergipe 06.09.2009 072, upload feito originalmente por Charles Fonseca.
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-------------------------------Aqui uma pausa para uma historinha baiana dos anos 50, tempo em que quem mandava na Bahia era Antonio Balbino.
Naquela época, durante memorável e demolidora campanha para o governo do estado em 1954, o habilidoso e competente ex-ministro da Educação de Getúlio disputava o Palácio da Aclamação com o ex-reitor da Universidade Nacional do Rio de Janeiro e respeitado historiador, Pedro Calmon, apoiado pela UDN.
Um dia, em busca de votos, Balbino aportou na cidade de Juazeiro, no Vale do São Francisco. Ali o seu partido não conseguia eleger nem um vereador. Mas, abrigado na casa de um dos raros pessedistas do lugar, o político fez uma reunião da família e traçou uma estratégia para não perder de todo a viagem eleitoral.
Depois, acompanhado de dois filhos de seu hospedeiro, partiu rumo ao cais do febril porto fluvial naquele tempo. Ali, tendo a balaustrada como palanque, o notável tribuno decidiu falar para os barqueiros e quem mais tivesse interesse em ouvi-lo na cidade politicamente "dominada pelos Viana de Castro".
Naquele dia, Balbino comoveu muita gente. Principalmente ao falar sobre a ventura e desventura de ser, ele próprio, nascido em Barreiras, região do além São Francisco, "um barqueiro e filho de barqueiro que conhece como poucos dramas e necessidades de sua gente".
Saiu ovacionado do cais, mas esta história é longa e o espaço pequeno para contá-la por inteiro. O resultado, no entanto, é que Antonio Balbino foi eleito governador com vitória histórica e estrondosa também na até então anti-pessedista Juazeiro.
Meses depois da posse, com o novo governo já bem instalado no soberbo Palácio da Aclamação, eis que aparecem na capital os dois rapazes, acompanhantes de Balbino no comício do cais, para apresentar "a fatura do pai e cabo eleitoral inestimável".
O governador da Bahia recebe em seu gabinete de mando, com alegria e afeto especiais, os dois jovens visitantes. Reafirma o seu "eterno reconhecimento" e promete construir boas escolas na cidade, para cuja direção nomearia as duas professoras, filhas "do estimado cabo eleitoral". Aí a história ganha um rumo inesperado.
Um dos rapazes pergunta em tom de reclamação: "Escolas? Professora?". E o irmão completa: "Meu pai não quer isso, não, Balbino. Ele quer é construção de açudes, de estradas pra roubar". Surpreso o governador contesta: "Mas isso eu não posso fazer, é impróprio, ilegal, seria como mentir para minha gente". O primeiro rapaz toma outra vez a palavra para o arremate:
"Mentir, governador? Mas o senhor não disse no comício de Juazeiro que foi barqueiro, como seu pai? Seu pai nunca foi barqueiro, Balbino. Seu pai sempre foi dono de barcas". E cai a cortina sobre a conversa e o seu resultado.
Vitor Hugo Soares
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