Pesquisar este blog

quinta-feira, novembro 25, 2010

Zé Mole. Charles Fonseca. Prosa


Eroildes da Silva Fonseca 3, upload feito originalmente por Charles Fonseca.
Então. Ela tinha um ex-cunhado. Alcoólatra morava numa casa de telha vã, de adobe e sem reboco, um misto de oficina de marcenaria e abrigo. Chegada recentemente à nova cidade do sudoeste da Bahia mandou-me procurar o Zé, seu nome. Lá cheguei e ele fedia. Sebento. Parecia que não tomava banho há meses. Barbudo. Fogão a lenha. Levei-lhe um recado dela de que se quisesse morar conosco, nada lhe custaria com a condição de tomar banho diariamente e não beber. Aceitou e assim passamos a contar com a presença de Zé Mole, conosco. Anos se passaram. Um dia, no almoço, enquanto servia a todos ela comentava sobre algo da política nacional que ouvia pelo rádio. E de como faria se fosse governante. O taciturno Zé Mole exclamou: “- Se você fosse a Presidente da República, botava o Brasil a pique”. E ela: “- É mesmo: e o primeiro que ia a pique era você”. Ela foi de avião da Panair para o Rio de Janeiro entregar o Zé a uma das filhas. Adolescente fui com o Zé no fundo de um ônibus sobre um banquinho de madeira já que não havia mais poltrona disponível nem dinheiro para passagem aérea. Dormimos em Teófilo Otoni, MG, num quarto beira de estrada com paredes de madeira. 1.255 km em estrada cascalhada, a Rio - Bahia.

Um comentário:

  1. Essa de ter ido com o Seu Zé num banquinho no fundo do ônibus até o Rio de Janeiro, eu não sabia. Que sufoco!... Mas também, pra um adolescente ir ao Rio de Janeiro naquela época, valia a pena qualquer sacrifício. Ha-ha-ha...

    ResponderExcluir