A MISERICÓRDIA
Charles Fonseca
Era assim: minha mãe não permitia que os esmoleres/pedintes tocassem violão na porta de nossa casa sob o argumento de que na Bíblia havia um versículo que proibia que estes tocassem trombetas à porta de alguém com a mesma finalidade. Que o que se dava com a mão a outra não devia ver. E quando chegava à nossa porta um pedinte/doente mental sujo, maltrapilho, cabeludo a pedir um prato de comida, ela prometia dar desde que ele consentisse em tomar um banho no nosso quintal. O cidadão consentia e, incontinente, era levado ao quintal, posto em um banquinho, ficando só com uma calça velha de meu pai cortada acima do joelho a título de bermuda... Bucha e sabão massa em todo o corpo, enxaguado com água morna, cortado o cabelo e as unhas. Enquanto isso nós pulávamos de alegria, era uma festa! Cheiroso, alimentado, lá se ia pelo mundo aquela alma.
terça-feira, agosto 24, 2010
A misericórdia. Charles Fonseca. Prosa
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