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sexta-feira, maio 28, 2010

ECONOMIA

A tubulação
Míriam Leitão:

Quem vê o reluzente superávit primário do setor público pode concluir que está tudo tranquilo com as contas públicas. Infelizmente, não está.
O governo teve déficit primário dois meses seguidos, a melhora ocorreu pelo crescimento do PIB. Há sinais apavorantes nas contas públicas, entre elas o que o professor Rogério Werneck define como "tubulação ligada entre o Tesouro e o BNDES".
Há vários sinais de preocupação. O governo tem aumentado seus gastos acima do crescimento do PIB e isso, a médio e longo prazo, é insustentável.
O Brasil já tem uma carga tributária exagerada, impostos mal distribuídos e alíquotas que se transformam em barreira ao crescimento sustentado. Não há austeridade fiscal, nem controle de gastos. O superávit só aconteceu em abril porque a receita está subindo. A arrecadação em abril aumentou 22%.
— O governo brasileiro é uma máquina de gastar e tem contornado todas as formas de controle. O regime fiscal está montado para funcionar com a receita crescendo sempre o dobro do PIB, o tempo todo. Se fosse cauteloso, o governo deveria aproveitar o excesso de arrecadação para baixar as alíquotas. Essas alíquotas altas foram criadas numa época em que o sistema de arrecadação era mais ineficiente. Agora, tem se tornado mais e mais eficiente. Houve uma crise na receita, mas ela foi superada, o país está crescendo. Tudo isso levou ao resultado positivo, mas o governo afirma que está sendo austero por ter resultado positivo. Na verdade, está aumentando os gastos de forma irreversível, aproveitando a elevação da arrecadação. Desta forma vamos para uma carga de 40% do PIB — diz o professor da PUC-Rio Rogério Werneck, especialista em contas públicas.
O que mais preocupa o economista é a tubulação ligando o Tesouro ao BNDES.
— De tudo o que mais me preocupa é o BNDES. Ele tem recebido recursos de fora do orçamento, centenas de bilhões de reais de emissão de dívida pública para a concessão de crédito subsidiado. O governo descobriu essa forma e pensa que ela é mágica. Por essa tubulação podem agora passar quantos bilhões forem necessários para obras faraônicas, para financiar Belo Monte a 30 anos e 4% de juros, para fazer o trem bala. Tem dinheiro para tudo. É uma gambiarra que na prática é emissão de dívida — diz Rogério.
Esse dinheiro contorna tudo, até a contabilidade da dívida pública líquida, porque o governo registra como ativo o dinheiro emprestado ao BNDES. Assim, ele dá a impressão de austeridade.
— Nada acontece com a dívida líquida, mas essa estatística não faz mais sentido de tanta gambiarra feita pelo governo. Ele está bombeando dinheiro para o BNDES e pouca gente fala disso porque o empresariado foi todo cooptado. Antes havia dinheiro para alguns, e os outros reclamavam. Agora parece haver dinheiro para todos e ninguém quer apontar o problema — diz o economista.
Essa despesa além de não ser mensurável encontra um bloqueio de informações por parte do governo. O "Estado de S. Paulo" passou um mês pedindo ao Tesouro e ao BNDES informações sobre as condições dos "empréstimos" concedidos, e eles se negaram a fornecer detalhes.
Só em abril foram R$ 80 bilhões de empréstimos, e com juros ainda mais baixos e prazos superiores a 30 anos. Em um único mês, a dívida cresceu 6,6% por causa dessa operação.
A Controladoria Geral da União (CGU) também procurou saber as condições dessas operações financeiras para executar seu trabalho de fiscalização. O BNDES alegou à CGU que não pode dar detalhes porque é uma instituição financeira e esses detalhes, se tornados públicos, representariam quebra de sigilo fiscal e bancário.
O banco recebe dinheiro de endividamento público — dívida que será paga por todos nós — em condições sigilosas e com esse dinheiro financia as empresas com um enorme subsídio.
A CGU pede informações e o banco diz que isso quebra seu sigilo bancário. Curiosa alegação, já que o BNDES não é banco comercial e sim uma instituição pública financiada por recursos públicos.
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/

Um comentário:

  1. A Miriam tocou num ponto muito sensivel para o governo e preocupante para nós, contribuintes. Lamento que ela não tenha citado os eventos Copa do Mundo e Olimpiadas. A implosão seguida de reconstrução do estádio da Fonte Nova, aqui em Salvador, com centenas de milhões gastos a fundo perdido, fica dificil de ser explicado. Rubem

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