ASPIRAÇÃO 
Alberto de Oliveira
Ser palmeira! existir num píncaro azulado, 
Vendo as nuvens mais perto e as estrelas em bando; 
Dar ao sopro do mar o seio perfumado, 
Ora os leques abrindo, ora os leques fechando;
Só de meu cimo, só de meu trono, os rumores 
Do dia ouvir, nascendo o primeiro arrebol, 
E no azul dialogar com o espírito das flores, 
Que invisível ascende e vai falar ao sol;
Sentir romper do vale e a meus pés, rumorosa, 
Dilatar-se a cantar a alma sonora e quente 
Das árvores, que em flor abre a manhã cheirosa, 
Dos rios, onde luz todo o esplendor do Oriente;
E juntando a essa voz o glorioso murmúrio 
De minha fronde e abrindo ao largo espaço os véus 
Ir com ela através do horizonte purpúreo 
E penetrar nos céus;
Ser palmeira, depois de homem ter sido esta alma 
Que vibra em mim, sentir que novamente vibra, 
E eu a espalmo a tremer nas folhas, palma a palma, 
E a distendo, a subir num caule, fibra a fibra:
E à noite, enquanto o luar sobre os meus leques 
treme, E estranho sentimento, ou pena ou mágoa ou dó, 
Tudo tem e, na sombra, ora ou soluça ou geme, 
E a distendo, a subir num caule, fibra a fibra;
Que bom dizer então bem alto ao firmamento 
O que outrora jamais — homem — dizer não pude, 
Da menor sensação ao máximo tormento 
Quanto passa através minha existência rude!
E, esfolhando-me ao vento, indômita e selvagem, 
Quando aos arrancos vem bufando o temporal, 
— Poeta — bramir então à noturna bafagem, 
Meu canto triunfal!
E isto que aqui digo então dizer: — que te amo, 
Mãe natureza! mas de modo tal que o entendas, 
Como entendes a voz do pássaro no ramo 
E o eco que têm no oceano as borrascas tremendas;
E pedir que, o uno sol, a cuja luz referves, 
Ou no verme do chão ou na flor que sorri, 
Mais tarde, em qualquer tempo, a minhalma conserves, 
Para que eternamente eu me lembre de ti!
quarta-feira, março 31, 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
 
 
 
 

Nenhum comentário:
Postar um comentário