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domingo, fevereiro 28, 2010

PROSA

EMIGRAÇÃO 71
Roberto Schwarz

A mulher de um marinheiro trucidado conta ao pai de uma
menina presa, aguardando julgamento, a depressão nervosa
de um amigo comum, deputado federal, que agora vive no
Chile. Será que o Allende vai dar certo... As chicrinhas vão
pela sala, de mão em mão, há uma bandeja de bolo e outra
de doce de leite. Lá fora, imensa e silenciosa, a dança fan-
tástica do outono incendeia a tarde fria. O garoto brincan-
do no tapete já nasceu em Paris. Aqui e ali o murmúrio é
interrompido por uma expressão mais nortista. Um menino
loiro, que participou no rapto dalgum embaixador, pede açú-
car para pôr no chá. Na vitrola Caetano canta a sua versão
da Asa Branca. Todos ficam quietos.

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