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terça-feira, março 27, 2007

O MAR E O CANAVIAL
João Cabral de Melo Neto

O que o mar sim aprende do canavial:
a elocução horizontal de seu verso;
a geórgica de cordel, ininterrupta,
narrada em voz e silêncio paralelos.

O que o mar não aprende do canavial:
a veemência passional da preamar;
a mão-de-pilão das ondas na areia,
moída e miúda, pilada do que pilar.

O que o canavial sim aprende do mar:
o avançar em linha rasteira da onda;
o espraiar-se minuciosio, de líquido,
alagando cova a cova onde se alonga.

O que o canavial não aprende do mar:
o desmedido do derramar-se da cana;
o comedimento do latifúndio do mar,
que menos lastradamente se derrama.

Um comentário:

  1. Olá amigo
    Ando meio sem tempo para a poesia (que pena!), mas acompanho a nossa correspondência e passo por aqui de vez em quando.
    parabéns pelos seus poemas e por divulgar outros autores tão bons quanto o João Cabral.
    Abçs,
    Ruy

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