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terça-feira, janeiro 09, 2007

Hóspede. Guilherme de Almeida. Poesia

HÓSPEDE
Guilherme de Almeida

Não precisa bater quando chegares.
Toma a chave de ferro que encontrares
sobre o pilar, ao lado da cancela,
e abre com ela
a porta baixa, antiga e silenciosa.
Entra. Aí tens a poltrona, o livro, a rosa,
o cântaro de barro e o pão de trigo.
O cão amigo
pousará nos teus joelhos a cabeça.
Deixa que à noite, vagarosa, desça.
Cheiram a relva e sol, na arca e nos quartos,
os linhos fartos,
e cheira a lar o azeite da candeia.
Dorme. Sonha. Desperta. Da colméia
nasce a manhã de mel contra a janela.
Fecha a cancela
e vai. Há sol nos frutos dos pomares.
Não olhes para trás quando tomares
o caminho sonâmbulo que desce.
Caminha - e esquece.

Um comentário:

  1. Que bom lembrar autores que tem uma prosa tão elegante como o Guilherme de Almeida. Não conheço muita coisa dele, mas lembro que a sua transcriação das Flores do Mal de Baudelaire é impagável.
    Um abraço,
    Ruy

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