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sexta-feira, dezembro 15, 2006

De tanto pensar me veio a ilusão. Hilda Hilst. Poesia

DE TANTO PENSAR, ME VEIO A ILUSÃO
Hilda Hilst

De tanto te pensar, me veio a ilusão.
A mesma ilusão
Da égua que sorve a água pensando sorver a lua.
De te pensar me deito nas aguadas
E acredito luzir e estar atada
Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas.
De te sonhar, tenho nada,
Mas acredito em mim o ouro e o mundo.
De te amar, possuída de ossos e abismos
Acredito ter carne e vadiar
Ao redor dos teus cismos.
De nunca te tocar
Tocando os outros
Acredito ter mãos, acredito ter boca
Quando só tenho patas e focinho.
De muito desejar altura e eternidade
Me vem a fantasia de que
Existo e Sou.
Quando sou nada: égua fantasmagórica
Sorvendo a lua n'água.

Um comentário:

  1. Que pena eu ter pouco tempo para passear neste blog que seleciona coisas tão boas como poemas da Hilda.
    Abraço
    Ruy

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