Sabe aquela história de passar a limpo o passado? Esta é uma história suja. Precisava vender um carro que foi motivo de exibição de pobre metido a rico. Comprei zero quilômetro numa concessionária. Burrice. Mas vinha de um trauma que me abateu por quatro anos. Quando recebi a indenização ao invés de comprar um tipo moderno de fusquinha gastei parte menor e exibi pra mim mesmo um Narciso redivivo. Voltemos. Anunciei a venda em importante vespertino que era vendido logo ao amanhecer nas bancas de jornal. Temeroso marquei encontro com comprador no meu amável Shopping Barra em Salvador. Audaz fui sozinho. O comprador compareceu acompanhado de alguém vestido de modo tão simples e de sandália havaiana que fiquei desconfiado. Será um bandido? Será um policial? E o coração a bater ligeiramente acelerado. Em frente. Cedi a direção ao acompanhante do comprador que seria um mecânico. À primeira curva notei que ele havia comprado a carteira de motorista se é que a tinha. Desisti de imediato da venda. Assumi a direção do veículo. Menos pão duro vendi o carro numa concessionária de veículos a um preço menor do almejado. Mais rico em experiência.
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