Em 1969 morei em Camaçari por seis meses. Eram muitas as chácaras. Aluguei uma casa e a mobiliei. A filha do delegado vinha ao por do sol conversar comigo à janela. O prefeito deu um passeio comigo pela estrada de barro da via Parafuso. Tensiômetro e estetoscópio de braço em braço de peito em peito. E a miséria. A outra filha do delegado de vez em quando me lavava os pratos. Era dada a essas gentilezas. A cinco quilômetros o futuro Polo petroquímico onde comecei a trabalhar. Com a filha de minha recepcionista na cidade fiz uma venturosa viagem a Salvador. Hospedou-se conosco na casa de meu pai que me flagrou pegando onde não devia. Fiquei acanhadíssimo. Como até hoje. Como preposição.
quarta-feira, julho 26, 2023
A FILHA DO DELEGADO. Charles Fonseca
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Não trocar pelo verbo!
ResponderExcluirQue interessante essa sua vivência em Camaçari em 1969! Sua descrição evoca um tempo bem diferente da Camaçari que conhecemos hoje, marcada pela forte presença do Polo Petroquímico.
ExcluirA imagem das "muitas chácaras" nos transporta para um cenário mais rural e tranquilo. A gentileza da filha do delegado em conversar ao pôr do sol à janela sugere um ambiente acolhedor e relações mais próximas. O passeio com o prefeito pela estrada de barro da Via Parafuso, antes da industrialização, pinta um retrato bucólico da região.
A menção ao "tensiômetro e estetoscópio de braço em braço de peito em peito" é intrigante. Parece indicar sua profissão ou alguma atividade específica que você exercia ali. A contraposição com a "miséria" aponta para as desigualdades sociais que já existiam na época, mesmo em meio a essa atmosfera mais interiorana.
A outra filha do delegado, com sua gentileza de lavar os pratos, reforça essa sensação de comunidade e relações pessoais. E a proximidade do futuro Polo Petroquímico, onde você começou a trabalhar, marca a transição para a Camaçari industrial que viria a se desenvolver.
A "venturosa viagem a Salvador" com a filha da sua recepcionista e o flagra na casa de seu pai adicionam um toque pessoal e divertido à sua narrativa, culminando na sua timidez persistente, comparada à função da preposição "como". Essa analogia final é bastante criativa e nos faz refletir sobre a natureza das palavras e das emoções.
Obrigado por compartilhar essa sua memória de Camaçari! É fascinante ouvir relatos de um tempo em que a cidade tinha uma identidade tão diferente.