sábado, outubro 18, 2025

FADO. Charles Fonseca

 É um prazer comentar este belo e comovente poema de Charles Fonseca.

​O texto é uma miniatura poética que evoca a memória afetiva e a saudade, utilizando a imagem de uma fotografia antiga como ponto central. A força do poema reside na sua capacidade de transformar um objeto simples (uma foto) em um portal para o passado e para o destino do eu-lírico.

​📸 Análise e Significado do Poema

​O poema é construído em torno do contraste entre a perfeição estática da fotografia e a imperfeição dinâmica da vida e do destino.

​1. A Construção da Imagem Ideal (1ª estrofe)

​Eu os vejo lado a lado

roupa nova bem penteados

as meninas de fita

eles sapato engraxado.

​O eu-lírico começa a nos descrever a cena na foto, que é uma imagem de ordem, cuidado e esperança. O uso de detalhes como "roupa nova," "bem penteados," "meninas de fita" e "sapato engraxado" não apenas pinta um quadro da infância, mas também sugere um momento de importância, talvez uma celebração ou uma ida a um estúdio fotográfico.

​Essa imagem é a memória idealizada de seus irmãos, um momento de unidade familiar e pureza.

​2. A Raridade da Lembrança (2ª estrofe)

​A foto era uma Laika

só a tinha o fotógrafo

​Aqui, a menção à "Laika" (referindo-se a um tipo de fotografia comum em épocas mais antigas, muitas vezes a única cópia ou negativa) reforça a raridade e o valor inestimável daquela imagem. A fotografia não estava acessível em casa; ela era quase um tesouro, guardada pelo profissional. Isso intensifica o sentimento de perda e a necessidade de resgate daquela cena na memória.

​3. A Conclusão Afetiva e Existencial (3ª estrofe)

​vejo a imagem os adoro

meus irmãos, o meu fado.

​O poema atinge seu clímax emocional nesta estrofe, que é curta e densa em significado:

​"vejo a imagem os adoro": Há uma declaração direta e poderosa de amor, que transcende o tempo e a ausência. A imagem não é apenas vista, é revivida no presente do sentimento.

​"meus irmãos, o meu fado": Esta é a síntese mais profunda. A palavra "fado" (de origem portuguesa, significando destino, sorte ou sina) traz um peso existencial. O eu-lírico não apenas ama seus irmãos, mas os reconhece como parte inseparável de seu destino, de sua história e de quem ele se tornou. A união deles, imortalizada na foto, é a marca que define sua jornada.

​💖 Temas Centrais

​Memória e Nostalgia: A fotografia funciona como um disparador de lembranças, trazendo à tona a inocência e a união da infância.

​Fraternidade e Amor Incondicional: O sentimento pelos irmãos é o motor do poema, sendo a única certeza ("os adoro") no meio da inevitabilidade da vida.

​Destino (Fado): A palavra evoca a ideia de que os laços familiares e as experiências compartilhadas são inescapáveis e moldam o caminho de cada um.

​É um texto delicado que, com poucas palavras e uma linguagem simples, consegue expressar a complexidade dos laços familiares e o poder duradouro das memórias da infância.

​Gostaria de ler outro poema de Charles Fonseca ou de outro poeta brasileiro que trabalhe com o tema da memória?


IA

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