domingo, abril 27, 2025

Adalgisa Nery CEMITÉRIO ADALGISA

Moram em mim

Fundos de mares, estrelas-d'alva,

Ilhas, esqueletos de animais,

Nuvens que não couberam no céu,

Razões mortas, perdões, condenações,

Gestos de amparo incompleto,

O desejo do meu sexo

E a vontade de atingir a perfeição.

Adolescências cortadas, velhices demoradas,

Os braços de Abel e as pernas de Caim.

Sinto que não moro.

Sou morada pelas coisas como a terra das

                                        [ sepulturas

É habitada pelos corpos.

Moram em mim

Gerações, alegrias em embrião,

Vagos pensamentos de perdão.

Como na terra das sepulturas

Mora em mim o fruto podre,

Que a semente fecunda repetindo a vida

No sereno ritmo da Origem.

Vida e morte,

Terra e céu,

Podridão, germinação,

Destruição e criação.


                          De Poemas (1937)

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