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domingo, novembro 11, 2012

Caetano fala, a canalha gralha.

Jorge Alfredo – No show, você fala que agora quer botar pra quebrar com o pessoal da imprensa, “não quero ser usado pela canalha!”…

Caetano Veloso – Não quero mesmo. Não é a imprensa. Eu falei ontem no show mais ou menos claro; é que existe um problema de se querer orientar essa força, que é a música popular no Brasil, e que tem um grupo, pretensamente de esquerda, ou talvez mesmo de direita, mas enfim, um grupo que chama a si mesmo de Esquerda e é chamado pelos os outros de Esquerda, que domina o serviço dos jornais e das revistas. Serviço é o que? Essas páginas das estrelinhas, o que faz Tárik de Souza, José Ramos Tinhorão, Maria Helena Dutra, Maurício Krubrusley, eles escrevem pra dizer o que é que você deve comprar, que show você deve ir, que show você não deve ir. Porque ninguém pode ir a todos, né? Então tem que ter um sujeito que ganha pra isso, então tem aquela página que se chama SERVIÇO. Então essa área de serviço para a burguesia, que vai aos espetáculos, é dominada por esse tipo de Esquerda medíocre e de baixo nível cultural e repressora, que pretende orientar a Música Popular. É isso que eu disse que quero acabar, pretendo acabar e sempre atrapalharei. Sou disso! Fui desde que comecei a trabalhar. E se eles não se tornarem uma União Soviética e mandarem me matar, não conseguirão jamais nada comigo, a não ser que eles ganhem os tanques. Se eles tiverem os tanques nas ruas, nas mãos deles, aí eles poderão me impedir em alguma coisa. Fora isso é impossível.

Jorge Alfredo – E é o mesmo pessoal que usou você, usou Glauber como estandartes de um pensamento e de uma arte revolucionária; a coisa quente da época.

Caetano Veloso – Pois é. Mas a mim eles só usaram quando eu não estava presente pra impedir. Foi quando eu estava em Londres. Exatamente! Não teve um dia antes nem um dia depois; um dia antes de eu sair de Londres, eu ainda era o inimigo, no dia seguinte ao dia que eu voltei de Londres, eu voltei a ser o inimigo. Então eles só me usaram enquanto eu não estava aqui para impedir, por que o que eu quero é impedir de ser usado por essa canalha! A visão que eu tenho é a seguinte; são as pessoas que obedecem a dois senhores; um é o dono da empresa, o outro é o chefe do partido. Então eles escolhem o que o burguês deve assistir segundo essas duas ordens. Então é uma gente que não pode falar do que faço nunca. Nunca eles estão falando realmente do que eu faço. Vem uma ordem do Roberto Marinho, ou do dono do Jornal do Brasil, ou do Mesquita e do outro lado vem uma ordem da célula do partido, ou sei lá do que… a visão que eu tenho deles, a caricatura que eu faço deles é essa. Então eles não são nada. É essa canalha que eu digo que vou acabar, que a gente já acabou, já matou; são defuntos que fingem que estão vivos. É isso! O Tárik é mais moço do que eu, é um sujeito que eu acho legal, ele sempre foi honesto pessoalmente comigo, mas ele está errado, eles estão errados, a função que eles estão exercendo está errada, eles estão botando estrelinhas pra dizer que disco você deve comprar e pensando que estão trabalhando pelo operariado, pela revolução. Que nada! São botadores de estrelinhas pro serviço do Jornal do Brasil, da Veja, da Isto É, da burguesia. E isso eu não estou falando achando que é ruim, não. Por que isso é bom. Nos Estados Unidos eles fazem isso, mas lá não é fracasso; lá deu certo, eles são ricos mesmo, os burgueses não têm vergonha, os caras que dizem na Brodway onde você deve ir ou não, sabem que estão escrevendo isso. Nenhum deles diz que é comunista, que está salvando a humanidade. Eles sabem que estão fazendo um serviço mesmo. Aqui eles também fazem isso fingindo que estão fazendo um trabalho da Revolução Operária, e se acham no direito de esculhambar com a gente, por que se acham numa causa nobre. Eles são empregados do dono do jornal, por um lado, e obedecem às linhas partidárias, pelo outro. Eu não sou nem uma coisa nem outra; sou um artista, senhor do universo, dono da minha vida, das minhas ações; boto minha voz na nota que eu quero, na intensidade que mais me apraz, pra emocionar as pessoas sensíveis. Essa é a diferença entre mim e eles… (longo silêncio)

No Brasil tem a impostação da Veja, da Isto É, do Jornal do Brasil, quer dizer; uma neutralidade de quem sabe que é dono do jornal, que aquele é o tom do dono do jornal, é uma fleuma de quem é o dono do jornal; uma linguagem completamente esquizofrênica. Por isso é que ninguém entende os artigos que os imbecis escrevem que é uma mistura de Roberto Marinho com Carlos Prestes.

http://cadernodecinema.com.br/blog/nao-quero-ser-usado-pela-canalha/

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