A VIDA
Amadeu Amaral
Eis a Vida: seguir umas quimeras vagas,
lançando a mão em sangue aos cardos e aos espinhos
rolar no pó; gemer; deixar pelos caminhos
mil farrapos de carne e o sangue de mil chagas;
sorver o horrendo fel que anda em todos os vinhos,
o veneno que jaz em todas as teriagas;
persistir, todavia, entre as chufas e as pragas
dos que vão, a ulular, por trilhos convizinhos;
chegar, enfim, exausto, ao fastígio da idade,
ver desfeito o jardim de encanto que sonhamos,
cair desfalecido e - supremo revés -
olhando para trás, ver que a felicidade
ficou além, no vale, onde, espectros, passamos,
ficou além, na flor que calcamos aos pés...
quinta-feira, abril 19, 2007
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