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domingo, dezembro 27, 2009

Alcoolismo

Alcoolismo.

O alcoolismo é uma doença crónica caracterizada por uma tendência a beber mais do que o devido, por tentativas infrutíferas de deixar a bebida e pela manutenção do hábito, apesar das consequências sociais e laborais adversas.
O alcoolismo é uma doença frequente. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 8 % dos adultos tem um problema de consumo de álcool. Os homens são quatro vezes mais propensos do que as mulheres a ser alcoólicos. As pessoas de todas as idades são susceptíveis. Cada vez mais, as crianças e os adolescentes têm problemas com o álcool, com consequências desastrosas.
O álcool produz dependência tanto psicológica como física. O alcoolismo geralmente interfere com a capacidade de se relacionar e de trabalhar e determina muitos comportamentos destrutivos. Os alcoólicos costumam estar intoxicados diariamente. A embriaguez pode alterar as relações familiares e sociais e provoca frequentemente divórcios. O absentismo extremo ao trabalho pode conduzir ao desemprego. Os alcoólicos frequentemente não conseguem controlar o seu comportamento, tendem a conduzir veículos tendo bebido e sofrem lesões físicas por quedas, brigas ou acidentes automobilísticos. Alguns alcoólicos podem também tornar-se violentos.

Causas
A causa do alcoolismo é desconhecida, mas o consumo de álcool não é o único factor. Aproximadamente 10 % das pessoas que bebem álcool tornam-se alcoólicas. Os familiares consanguíneos dos alcoólicos têm uma incidência mais alta de alcoolismo do que a população em geral. O alcoolismo tem também mais probabilidades de se desenvolver nos filhos biológicos dos alcoólicos do que nos adoptados, o que sugere que o alcoolismo implica um defeito genético ou bioquímico. Algumas investigações sugerem que as pessoas em risco de ser alcoólicas se embriagam com menos facilidade do que os não alcoólicos; isto quer dizer que os seus cérebros são menos sensíveis aos efeitos do álcool.
Para além de um possível defeito genético, existe um certo substrato e traços de personalidade que podem predispor uma pessoa para o alcoolismo. Os alcoólicos geralmente provêm de famílias desfeitas e as relações com os pais estão frequentemente alteradas. Os alcoólicos tendem a sentir-se isolados, sós, tímidos, deprimidos ou hostis. Podem exibir comportamentos autodestrutivos e ser sexualmente imaturos. Contudo, o abuso e a dependência do álcool são tão frequentes que os alcoólicos podem encontrar-se entre as pessoas com qualquer tipo de personalidade.

Efeitos biológicos
O álcool é rapidamente absorvido no intestino delgado. Como o álcool é absorvido de forma mais rápida do que se metaboliza e elimina, os seus valores no sangue aumentam rapidamente. Uma pequena quantidade de álcool é excretada pela urina, pelo suor e pela respiração sem ser modificada. A maior parte do álcool é metabolizada no fígado e contribui com 210 calorias por cada 30 ml (7 cal/ml) de álcool puro consumido.
O álcool deprime imediatamente as funções cerebrais; a intensidade deste efeito depende do seu valor no sangue (a uma maior quantidade, maior alteração). As concentrações de álcool podem ser medidas no sangue ou calculadas doseando a quantidade existente na amostra de ar expirado. As leis limitam a concentração sanguínea de álcool que uma pessoa pode ter enquanto conduz. Geralmente, alguns países fixam o limite em 0,1 (100 mg de álcool por cada decilitro de sangue), mas outros fixam-no em 0,08. Mesmo uma concentração de álcool de 0,08 pode reduzir a capacidade de uma pessoa para conduzir com segurança.
A ingestão prolongada de quantidades excessivas de álcool danifica muito os órgãos, particularmente o fígado, o cérebro e o coração. Como outras drogas, o álcool tende a induzir tolerância, pelo que as pessoas que bebem mais de dois copos por dia podem ingerir mais álcool do que os não bebedores sem que se verifiquem efeitos de embriaguez. Os alcoólicos podem também tornar-se mais tolerantes a outras substâncias que deprimem a função do sistema nervoso central; por exemplo, as pessoas que tomam barbitúricos ou benzodiazepinas necessitam, geralmente, de altas doses para conseguir um efeito terapêutico. A tolerância não parece alterar o modo como o álcool é metabolizado ou excretado. Pelo contrário, o álcool induz uma adaptação do cérebro e de outros tecidos.
Se um alcoólico, de repente, deixar de beber, é provável que se produzam sintomas de abstinência. A síndroma de abstinência de álcool geralmente começa de 12 a 24 horas depois de a pessoa ter deixado de consumir álcool. Os sintomas ligeiros incluem tremor, debilidade, sudação e náuseas. Algumas pessoas sofrem convulsões (a chamada epilepsia alcoólica ou convulsões pelo álcool). Os grandes bebedores que deixam a bebida podem sofrer alucinose alcoólica. Podem ter alucinações e ouvir vozes que parecem acusá-los e ameaçá-los, provocando-lhes apreensão e terror. As alucinações alcoólicas podem durar dias e podem ser controladas com medicamentos antipsicóticos, como a clorpromazina ou a tioridazina.
Se for deixada sem tratamento, a abstinência do álcool pode originar um conjunto de sintomas mais graves chamado delirium tremens. O delirium tremens não começa geralmente de imediato, aparecendo cerca de 2 a 10 dias depois de deixar beber. No delirium tremens a pessoa está no início ansiosa e mais tarde desenvolve confusão crescente, insónia, pesadelos, sudação excessiva e depressão profunda. O pulso tende a acelerar-se. Pode aparecer febre. O episódio pode agravar-se com alucinações fugazes, com ilusões que causam medo, inquietação e desorientação, com alucinações visuais que podem aterrorizar. Os objectos vistos com pouca luz podem ser particularmente aterradores. Por último, a pessoa está extremamente confusa e desorientada. Uma pessoa com delirium tremens sente, por vezes, que o chão lhe foge, as paredes caem ou a cama gira. À medida que o delírio progride, aparece tremor persistente nas mãos, que, por vezes, se estende à cabeça e ao corpo, e a maioria das pessoas apresenta uma descoordenação intensa. O delirium tremens pode ser mortal, sobretudo se não for tratado.
Outros problemas estão directamente relacionados com os efeitos tóxicos do álcool no cérebro e no fígado. Um fígado danificado pelo álcool tem uma capacidade diminuída de eliminar as substâncias tóxicas do corpo, o que pode causar um coma hepático. Uma pessoa em coma não tem energia, está sonolenta, entorpecida e confusa e geralmente apresenta um tremor estranho nas mãos, como um bater de asas. O coma hepático inclui perigo de morte e necessita de tratamento imediato.
A síndroma de Korsakoff (psicose amnésica de Korsakoff) (Ver secção 6, capítulo 75) geralmente, acontece em pessoas que ingerem, regularmente, grandes quantidades de álcool, especialmente naquelas que estão desnutridas e têm deficiência de vitaminas B (particularmente tiamina). Uma pessoa com a síndroma de Korsakoff perde a memória dos acontecimentos recentes. A memória é tão frágil que muitas vezes a pessoa inventa histórias que tentam encobrir a incapacidade para recordar. A síndroma de Korsakoff acontece, por vezes, depois de um ataque de delirium tremens. Algumas pessoas com a síndroma de Korsakoff desenvolvem também encefalopatia de Wernicke; os sintomas incluem movimentos anormais dos olhos, confusão, movimentos descoordenados e anomalias na função nervosa. A síndroma de Korsakoff pode ser mortal, a menos que se suprima rapidamente a deficiência de tiamina.
Numa mulher grávida, uma história de uma grande ingestão crónica de álcool pode associar-se com malformações do feto em desenvolvimento, incluindo baixo peso ao nascer, pequena estatura, cabeça pequena, lesões cardíacas, dano muscular e baixo coeficiente intelectual ou atraso mental. (• V. página 1250.) A ingestão moderada de álcool de tipo social (por exemplo, dois copos de vinho de 120 ml por dia) não está associada a estes problemas.

Tratamento
Os alcoólicos que apresentam uma síndroma de abstinência geralmente tratam-se a si próprios bebendo. Algumas pessoas procuram cuidados médicos porque não desejam continuar a beber ou porque a síndroma de abstinência é muito intensa. Num ou noutro caso, o médico verifica, primeiro, a possibilidade de uma doença ou de uma lesão da cabeça que possa complicar a situação e, depois, procura caracterizar o tipo de síndroma de abstinência, calcular quanto bebe habitualmente a pessoa e determinar quando deixou de beber.
Como a deficiência vitamínica causa uma síndroma de abstinência potencialmente mortal, os médicos dos serviços de urgência dão, geralmente, grandes doses endovenosas de complexos vitamínicos C e B, especialmente tiamina. Os líquidos intravenosos, o magnésio e a glicose administram-se, frequentemente, para proteger alguns da síndroma de abstinência do álcool e para evitar a desidratação.
Frequentemente, os médicos prescrevem um fármaco benzodiazepínico durante alguns dias para acalmar a agitação e ajudar a prevenir a síndroma de abstinência. Os medicamentos antipsicóticos administram-se geralmente a um reduzido número de pessoas com alucinose alcoólica. O delirium tremens pode pôr em perigo a vida e trata-se mais agressivamente para controlar a febre alta e a agitação intensa. Geralmente administram-se líquidos endovenosos, medicamentos para baixar a febre (como o paracetamol) e sedativos, e requer-se uma supervisão estreita. Com este tratamento, o delirium tremens começa geralmente a desaparecer dentro das primeiras 12 a 24 horas.
Depois de resolvidos os problemas médicos urgentes, deve começar-se uma desintoxicação e um programa de reabilitação. Na primeira fase do tratamento, o álcool é suprimido por completo. Portanto, um alcoólico tem de modificar o seu comportamento. Permanecer sóbrio é difícil. Sem ajuda, a maioria recai em poucos dias ou semanas. Geralmente crê-se que o tratamento de grupo é mais eficaz do que o acompanhamento individual; no entanto, o tratamento dever-se-á adequar a cada indivíduo. Pode também ser importante contar com o apoio dos familiares.
Alcoólicos Anónimos
Não existe nada que beneficie tanto os alcoólicos e de modo tão eficaz como a ajuda que podem proporcionar a si próprios participando nos Alcoólicos Anónimos (AA). Alcoólicos Anónimos opera dentro de um contexto religioso; existem organizações alternativas para quem deseja uma aproximação mais secular. Um alcoólico deve sentir-se bem, de preferência incorporando-se num grupo onde os membros partilham outros interesses para além do alcoolismo. Por exemplo, algumas áreas metropolitanas têm grupos de Alcoólicos Anónimos para médicos e dentistas e outras profissões e para pessoas com certas preferências, assim como para solteiros ou para mulheres e homens homossexuais.

Alcoólicos Anónimos
Procura um sítio onde o alcoólico em recuperação possa estabelecer relações sociais fora do bar com amigos não bebedores, os quais também servem de apoio quando surja de novo a necessidade imperiosa de beber. O alcoólico ouve as confissões dos outros ao grupo inteiro relativamente ao modo como estão a lutar dia a dia para evitar beber um copo. Finalmente propondo meios para que o alcoólico ajude os outros, Alcoólicos Anónimos permite que a pessoa construa uma confiança e uma auto-estima que antes só encontrava bebendo álcool.

Tratamento farmacológico
Por vezes, o alcoólico pode recorrer a um medicamento para evitar consumir o álcool. Pode prescrever-se um fármaco chamado dissulfiramo. Este medicamento interfere com o metabolismo do álcool, provocando acumulação de aldeído acético, um metabolito do álcool no sangue. O aldeído acético é tóxico e produz rubor facial, dor de cabeça pulsátil, aumento do ritmo cardíaco, respiração acelerada e sudação durante 5 a 10 minutos depois de a pessoa ingerir álcool. As náuseas e os vómitos podem apresentar-se de 30 a 60 minutos depois. Estas reacções incómodas e potencialmente perigosas duram entre uma e três horas. A incomodidade pela ingestão de álcool depois de tomar dissulfiramo é tão intensa que poucas pessoas se arriscam a tomar álcool, mesmo a pequena quantidade utilizada nalguns preparados de venda livre contra a tosse e o catarro ou nalgumas comidas.
Um alcoólico em recuperação não pode tomar dissulfiramo logo que deixar de beber; o medicamento só pode ser tomado depois de alguns dias de abstinência. O dissulfiramo pode afectar o metabolismo do álcool de 3 a 7 dias depois da última dose do fármaco. Por causa da intensa reacção ao álcool associada com o tratamento, o dissulfiramo deverá ser administrado somente a alcoólicos em recuperação, os quais querem realmente ajuda e estão a querer cooperar. As mulheres grávidas ou as pessoas que têm uma doença grave não devem tomar dissulfiramo.
A naltrexona, outro medicamento, pode ajudar as pessoas a tornarem-se menos dependentes do álcool, se for usada como parte de um programa de tratamento extenso que inclua acompanhamento. A naltrexona altera os efeitos do álcool em certas endorfinas do cérebro, que podem estar associadas com a procura compulsiva e o consumo do álcool. Uma grande vantagem relativamente ao dissulfiramo é que a naltrexona não produz mal-estar. Uma desvantagem é que a pessoa que toma naltrexona pode continuar a beber. As pessoas com hepatite ou outra doença hepática não devem tomar naltrexona.
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Efeitos do álcool nos não alcoólicos
Nível de álcool no sangue. Efeitos:
0.05 (50 mg/dl*): Facilitação da relação social; tranquilidade.
0.08 (80 mg/dl): Coordenação diminuída (redução das capacidades físicas e mentais). Diminuição de reflexos (ambas dificultam uma condução segura) .
0.10 (100 mg/dl): Alteração perceptível da coordenação.
0.20 (200 mg/dl): Confusão. Diminuição da memória. Alteração importante da estabilidade (não consegue permanecer de pé).
0.30 (300 mg/dl): Perda de consciência.
0.40 (400 mg/dl e mais): Coma, morte.
* Quantidade de álcool em miligramas (mg) por decilitro de sangue.

Consequências a longo prazo do consumo de álcool
Tipo de défice
Efeito Nutricional
Valores baixos de ácido fólico: Anemia, defeitos congénitos.
Valores baixos de ferro: Anemia.
Valores baixos de niacina: Pelagra (lesões cutâneas, diarreia, depressão).
Gastrointestinal
Esófago: Inflamação (esofagite), cancro.
Estômago: Inflamação (gastrite), úlceras.
Fígado: Inflamação (hepatite), cirrose, cancro.
Pâncreas: Inflamação (pancreatite), baixos valores de açúcar no sangue, cancro.
Cardiovascular
Coração: Ritmos cardíacos anormais (arritmia), insuficiência cardíaca.
Vasos sanguíneos: Hipertensão arterial, arteriosclerose, acidentes vasculares cerebrais.
Neurológico
Cérebro: Confusão, coordenação reduzida, memória de curto prazo limitada (recordações escassas dos acontecimentos recentes), psicose.
Nervos: Deterioração dos nervos que controlam os movimentos nos braços e nas pernas (diminuição da capacidade de andar).

http://www.manualmerck.net/

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