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domingo, janeiro 07, 2018

Art. 2 — Se é demonstrável a existência de Deus.

Art. 2 — Se é demonstrável a existência de Deus.
(Infra, q. 3, a. 5; III Sent., dist. 24, q. 1, a. 2, q. 1ª 2; Cont. Gent. I, 12; De Pot., q. 7, a. 3; in Boet. De Trin,
q. 1, a. 2)
O segundo discute-se assim — Parece que não é demonstrável a existência de Deus.
1. Pois, tal existência é artigo de fé. Ora, as coisas da fé não são demonstráveis, porque a demonstração
dá a ciência, e a fé é própria do que não é aparente, como se vê no Apóstolo (Heb 11,1). Logo, a
existência de Deus não é demonstrável.
2. Demais — O termo médio da demonstração é a quididade. Ora, não podemos saber o que é Deus,
como diz Damasceno. Logo, não lhe podemos demonstrar a existência.
3. Demais — Se se demonstrasse a existência de Deus, só poderia sê-lo pelos seus efeitos. Ora, sendo
Deus infinito e estes, finitos, e não havendo proporção entre o finito e o infinito, os efeitos não lhe são
proporcionados. E, como a causa se não pode demonstrar pelo efeito, que não lhe é proporcionado,
conclui-se que não se pode demonstrar a existência de Deus.
Mas, em contrário, diz a Escritura (Rm 1, 20): As coisas invisíveis de Deus se vêm depois da criação do
mundo, consideradas pelas obras que foram feitas. Ora, isto não se daria, se a existência de Deus não se
pudesse demonstrar pelas coisas feitas, pois o que primeiro se deve inteligir de um ser é se existe.
SOLUÇÃO. — Há duas espécies de demonstração. Uma, pela causa, pelo porquê das coisas, a qual se
apóia simplesmente nas causas primeiras. Outra, pelo efeito, que é chamada a posteriori, embora se
baseie no que é primeiro para nós; quando um efeito nos é mais manifesto que a sua causa, por ele
chegamos ao conhecimento desta. Ora, podemos demonstrar a existência da causa própria de um
efeito, sempre que este nos é mais conhecido que aquela; porque, dependendo os efeitos da causa, a
existência deles supõe, necessariamente, a preexistência desta. Por onde, não nos sendo evidente, a
existência de Deus é demonstrável pelos efeitos que conhecemos.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A existência de Deus e outras noções semelhantes que,
pela razão natural, podem ser conhecidas de Deus, não são artigos de fé, como diz a Escritura (Rm 1,19),
mas preâmbulos a eles; pois, como a fé pressupõe o conhecimento natural, a graça pressupõe a
natureza, e a perfeição, o perfectível. Nada, entretanto, impede ser aquilo, que em si é demonstrável e
cognoscível, aceito como crível por alguém que não compreende a demonstração.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Quando se demonstra a causa pelo efeito, é necessário empregar este em
lugar da definição daquela, cuja existência se vai provar: e isto sobretudo se dá em relação a Deus. Pois,
para provar a existência de alguma coisa, é necessário tomar como termo médio o que significa o
nome e não o que a coisa é, porque a questão — o que é — segue-se à outra — se é. Ora, os nomes a
Deus se impõe pelos efeitos, como depois se mostrará; donde, demonstrando a existência de Deus, pelo
efeito, podemos tomar como termo médio a significação do nome de Deus.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Efeitos não proporcionados à causa não levam a um conhecimento perfeito
dela; todavia, por qualquer efeito nos pode ser, manifestamente, demonstrada a existência da causa,
como se disse. E assim, pelos seus efeitos, pode ser demonstrada a existência de Deus, embora por eles
não possamos perfeitamente conhecê-lo na sua essência.

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