Pesquisar este blog

domingo, setembro 14, 2014

Há relações entre homossexualidade e doença ? ( um debate de psicologia médica )

ASPAS

Há relações entre homossexualidade e doença ? ( um debate de psicologia médica )

O colega XXXXXXXXX XXXXXXXXX, baseado num post onde descrevo algumas alterações frontais encontradas em uma população de transexuais, pergunta, com base nisto, se eu considero tais desvios da norma como "doença".
O que eu disse é que o transexualismo é uma condição que tem determinados marcadores biológicos, assim como a heterossexualidade também.
Se tais condições biológicas são chamadas ou não de "doença" isto é mais um juízo de valor do que biológico, portanto, não emito este tipo de opinião.
Eu, por exemplo, como bom bipolar que sou, tenho várias "anomalias sexuais", p.ex., hipersexualidade, adição toxicomanígena à pornografia. Não atuo estas tendências biológicas, mas as tenho. Optei por não atuá-las e me esforço para isto porque quero preservar o amor que tenho por minha mulher, quero preservar minha família, meus filhos. Sim, considero minha sexualidade doente pois me levaria ( se eu a atuasse ) a ter comportamentos de risco , que prejudicariam meu corpo, prejudicariam aqueles a quem mais amo.
Segundo o médico-filósofo inglês I. Scadding, "doença é aquilo que torna o organismo desadaptativo", ou seja, algo que gera mudanças e adaptações biológicas que levam à uma degradação orgânica, ou seja, uma situação na qual o organismo se auto-prejudica. Se eu tenho no organismo alguma condição que vai contra meus interesses, seja biológicos, sejam sociais, eu interpreto como "doença".
Neste sentido, segundo Sócrates, ( leia-se Fedon ) , todos nós encarnados somos doentes pois as "necessidades de nosso organismo", as injunções de nosso organismo, muitas das vezes são contrárias ao nosso bem-estar como ser humano.
Por exemplo, para o homem das cavernas, a hipersexualidade, a poligamia, eram interessantes para espalhar os genes, aumentar o poder, etc. Hoje em dia, hipersexualidade pode gerar doença ( naquela época das cavernas, menos, pois a população era bem menor e mais endogâmica ) , pode gerar desavença e destruição do tecido social.
Ou seja, o que não era doença antes, com a mudança social, "virou doença". Então, resumindo, e parafraseando Sócrates, "qualquer corpo é uma doença".
Veja bem o caso da bipolaridade : minha "fuga de ideias", minha insonia, minha hipersensibilidade, pode ser interpretada por muitos ( e até por mim mesmo ) como indicio de doença. No entanto, por outros pode ser interpretada como genialidade. Não me importo em ser julgado como "doente", isto não afeta o meu caráter. Acho que muitas pessoas importam-se de serem rotuladas de doentes porque não estão bem consigo mesmo, não estão bem com seu próprio caráter, não estão bem com sua própria moral. Eu, graças a Deus, estou bem com os meus, pois apesar de ser um DOENTE, não deixo minha doença prejudicar ninguém ( a não ser meus leitores, ahahahaha)
Como médicos, temos de estar preparados para lidar com a dialética do que está embutido no conceito de "doença" e não podemos nos deixar levar nem por um lado nem pelo outro ( nem pelo preconceito nem pelo anti-preconceito, aquele que tende a esconder realidades biológicas, cientificas, embaixo do tapete, com medo delas, por apontarem desvios da norma, serem usadas com finalidade preconceituosa ).
Então, neste sentido, vários estudos, p.ex., ver Le Vay, inclusive os nossos, mostram que o cérebro homossexual é diferente do heterossexual ( isto é , inclusive, óbvio ). Agora, se esta diferença é "doença" ou não isto não cumpre a mim decidir. Eu , por exemplo, uso várias características de minhas "anomalias biológicas" para tornar-me mais produtivo e útil para a sociedade, melhorando meu bem-estar e do meu entourage. Sou um doente ? Minhas anomalias ( desvios da média normal ) biológicas são doentias ? No momento não. Mas se vierem a ser, aceito-as também sem problemas, pois se eu ficar louco de vez não terá sido uma ESCOLHA MORAL.

ASPAS

Nenhum comentário:

Postar um comentário