FADO
O paciente foi à médica, há três dias dor no estômago em roedura todas as noites. Estou com câncer, pensou fragilizado. Conversa vai, conversa vem, ela perguntou por sua família, seus filhos. Ele começou a falar e lágrimas profusas desceram sobre a face envelhecida. Falou de um amor desesperado, há dois anos os filhos distantes, sem nem uma fala espontânea, um abraço, um como está você. A médica o consolou, apalpou seu abdome, disse-lhe que o seu problema era mais da alma, o corpo mero reflexo. Pediu exames de bio imagem, nada receitou. À noite, desde então, nada mais sentiu, exames normais. Foi curado pela fala, pelo afago de uma desconhecida, por uma fada. Este o seu fado.
Charles Fonseca
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