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sábado, março 23, 2013

Charles, o Rouxinol que pensou que era Corvo. Anienne Nascimento.

Charles, o Rouxinol que pensou que era Corvo
Anienne Nascimento

Era uma vez um lindo casal de rouxinóis, que morava numa grande floresta. Escolheram a maior árvore, a mais bonita, a mais frondosa para fazerem o seu ninho.Estavam muito felizes porque esperavam que nascessem os seus filhotes, sete ovinhos, sendo chocados com muito amor e carinho.
Tanto a mamãe, como o papai rouxinol tinham em cima uma cor castanha clara e cauda ligeiramente avermelhada, apresentando um branco sujo por baixo, lindos exemplares de sua espécie.
Papai rouxinol era um grande cantor e gostava de fazer os seus shows musicais à noite, quando expunha sua voz impressionante, com uma variedade de assobios, trinados e gorjeios que o faziam ser admirado por todas as aves da floresta.
Certo dia houve uma forte ventania na floresta e os rouxinóis ficaram bastante preocupados, pois precisavam proteger-se e também aos seus filhotes.
Procuraram um tronco oco de árvore para se abrigarem, mas durante a travessia, um dos ovinhos caiu e perdeu-se, papai rouxinol quase foi levado pelo vento, enquanto o procurava, mas não conseguiu encontrá-lo. Mamãe rouxinol ficou desolada, mas precisava cuidar dos outros que tinham resistido à ventania.
O pequeno ovo caiu num arbusto e foi escorregando devagarinho até o chão, depois saiu rolando, até que atingiu uma clareira, perto de um riacho, local muito bonito, porém frio para o desenvolvimento do ovo, que iria precisar de calor, muito calor damãe.
Passado algum tempo, o ovo no mesmo local, viu-se um pontinho preto no céu que foi aumentando, aumentando, até perceber-se que era um corvo que voava por ali e que andava com o coração mole, ele também ia ser papai, sua esposa estava chocando ovos e logo veriam a carinha de seus filhotes.
O seu bando não estava por ali, mas do outro lado da floresta, ele estava só e quando avistou o ovinho solitário na clareira, pensou: este bichinho vai morrer se continuar aí, vou levá-lo.
Foi até o chão pegou o pequeno ovo e o levou até onde mamãe corvo, toda orgulhosa e faceira, chocava os seus próprios filhotes. Papai corvo a olhou com satisfação, era uma linda fêmea, e com os olhos “pidões” falou:
- Querida, olha só o que trouxe para nós.
- Mas o que é isto?
- Um ovinho que encontrei abandonado no meio da floresta, pensei que poderíamos adotá-lo, o que acha?
Mamãe corvo o olhou desconfiada:
- Você não sabe que tipo de pássaro é este, e se for perigoso? E se não for um pássaro?
- Deste tamanho, com certeza, não será perigoso para nós e, se for quando descobrirmos o que é, poderemos deixá-lo em algum lugar antes que cresça.
Ela não estava muito convencida e papai corvo a olhou de novo, quase implorando:
- Por favor...
- Está bem, vamos adotá-lo.
O tempo passou e os pássaros nasceram,cinco deles, a princípio brancos, ficaram negros como a noite e um único, castanho claro com a cauda avermelhada. Esta foi a primeira diferença que eles observaram e,Charles, este era o seu nome, perguntou para sua mãezinha:
- Mamãe, por que sou de cor diferente dos meus irmãos?
- Filhinho, cada um é como é, eu amo você assim.
Os irmãos zombavam dele e o chamavam de “o diferente”, o que o deixava extremamente triste. Tentava crocitar como os outros, mas desafinava, sua voz não era afeita àquela tonalidade como era muito tímido, preferia calar.
Para aprender a voar também teve problemas, até que descobriu o seu próprio jeito, que também era diferente do de seus irmãos.
O pequeno rouxinol só foi aceito no bando porque o conheciam desde recém-nascido, mas muitos não o olhavam com bons olhos. Sabiam que não era um corvo, mas não tinham coragem de contar isto para ele, esperavam que seus pais, um dia,lhe expusessem toda a sua história.
Charles não tinha amigos e criou o hábito de sair sozinho à noite, esta que ficou sua amiga e que, por sua cor e escuridão, lembrava os seus parentes que não o entendiam. Nestes momentos aproveitava para treinar a voz, queria fazer bonito, mas não conseguia e insistia pensando: um dia vou conseguir!
Certa noite, voou para mais longe e resolveu parar quando encontrou uma árvore alta e centenária, então, começou seu treinamento. Encheu os pulmões de ar e, algo diferente aconteceu,do seu peito saiu um lindo canto forte e vibrante que expressava o seu ser verdadeiro, isto o deixou surpreso e assustado, era mesmo muito diferente dos outros.
Voltou para o bando decidido a conversar com seus pais e ao chegar falou:
- Mamãe e papai, preciso falar com vocês.
Os dois trocaram um olhar de cumplicidade, pois sabiam que tinha chegado o momento, seu filho era, quase, um adulto.
Papai corvo, com muito carinho, contou-lhe como o tinha encontrado, ainda ovo na clareira, tão só e à mercê dos perigos da floresta. Mamãe corvo continuou a história, falando sobre o medo que sentiu à primeira vista e depois sobre o carinho e amor que nasceram dentro de si, enquanto o chocava e que só tinha aumentado, desde então.
Charles se sentiu muito amado e muito grato, se não fosse aquele casal de corvos, seus pais adotivos, poderia nem ter nascido, mas agora havia chegado a hora, precisava ir embora e fazer sua própria vida. Despediu-se dos pais, dos irmãos e de todo o bando, nunca iria esquecê-los.
Era noite, mas preferia partir à noite, esta que sempre foi sua amiga, sua grande amiga.

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