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segunda-feira, janeiro 09, 2012

O leão, a raposa e a corça. Prosa

O LEÃO, A RAPOSA E A CORÇA

O leão estava muito doente e disse à raposa, sua boa amiga: - Quer que eu fique curado e viva? Vá buscar a grande corça que mora na floresta, convença-a com suas doces palavras e traga-a para mim: preciso de suas vísceras e de seu coração. A raposa se foi encontrou a corça correndo pelos campos. Saudou-a amavelmente e disse-lhe: - Vou lhe dar uma boa notícia. Sabe que nosso rei, o leão, é meu vizinho. Ele está doente, quase morrendo. Ele se perguntou que animal seria o rei após sua morte. O javali, disse ele, é meio roliço; o urso, preguiçoso; a pantera, irritadiça; o tigre, fanfarrão. A corsa, concluiu ele, é a mais digna de reinar: tem um porte esbelto, vive muito e tem chifres temíveis. Em suma: você foi a escolhida. Que adianta ter sido a primeira a lhe dar essa notícia? Prometa-me uma coisa: tenho medo de que ele me chame. Ele precisa sobretudo de meus conselhos. E agora, vá até lá e assista-o em seus últimos instantes. A corça, ouvindo isso, se deixou levar pelos elogios e foi até a gruta do leão sem saber o que a esperava. Mal chegou e a fera foi logo saltando sobre ela. Mas só conseguiu rasgar-lhe as orelhas com suas garras. A corça fugiu em desabalada carreira pelo campo. A raposa esfregou as patas de raiva: tanto trabalho para nada! Quanto ao leão, lamentava-se rugindo, acossado pela fome e pela amargura: precisava mais uma vez que a raposa usasse de sua astúcia para trazer a corça de volta. - O senhor está me dando uma tarefa difícil e penosa - disse a raposa -, mas vou me esforçar. E, como um cão de caça, pôs-se atrás da corça, tramando mil maneiras de trazê-la para o leão. Perguntou aos pastores se não tinham visto uma corça ensanguentada. Eles mostraram o lugar da floresta onde ela estava. A raposa encontrou a corça descansando e foi direto ao assunto. A corça exclamou, o pêlo eriçado de raiva: - Mentirosa, pensa que vai me pegar de novo! Mais um passo e morre. Para alguns, as suas astúcias, para outros, os ingênuos, oferece um reino e os faz perder a cabeça com suas belas palavras. Mas a raposa respondeu: - Você é assim tão covarde e fraca? É assim que nos julga, nós seus amigos? Quando o leão pregou suas orelhas, como alguém que sabe que vai morrer, ele queria lhe dar conselhos e instruções para o seu reino glorioso. E você nem conseguiu suportar o arranhão da pata de um doente. Agora ele está com mais raiva ainda de você. O lobo é que vai ser o rei dos animais. É uma pena! O lobo malvado! Vamos, venha, não tenha medo. Juro por todas as folhas e por todas as fontes, o leão não lhe fará mal nenhum. Quanto a mim, estou à sua inteira disposição. A raposa conseguiu assim levar a corça de volta ao leão. Quando ela entrou no covil, foi logo abocanhada. O leão devorou tudo: ossos, tutano, vísceras. A raposa ficou só olhando, mas ao ver o coração da corça no chão pegou-o discretamente e o comeu para recompensar seu trabalho. Na mesma hora, o leão, ao não encontrá-lo entre os outros pedaços do animal, reclamou. A raposa, mantendo-se à distância, disse-lhe; - Na verdade, essa corça não tinha coração: não o procure mais. Como teria um coração de corça quem, por por duas vezes, voltou ao antro de um leão para cair nas suas garras? O amor pela glória perturba o espírito e nos deixa cegos diante dos perigos.

Esopo

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