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terça-feira, novembro 30, 2010

Descansou

Noventa e quatro anos, a idade do paciente. Internado de emergência na UTI, na primeira noite teve cinco paradas cardíacas. Por duas vezes foi para o apartamento individual. Por duas vezes voltou à UTI. Da última foi traqueostomizado. Foi atingido no hospital por uma pneumonia, bactéria resistente a praticamente todos os antibióticos. Um filho médico. Mais de mês a médica que o acompanhava certo dia lhe telefonou e disse: “Seu pai cada vez captando menos o oxigênio que lhe é continuamente administrado... Tenho observado que cada vez que volta da UTI sua qualidade de vida está pior. Com a última parada cardíaca sofreu lesão cerebral e ficou cego, embora pensamento lúcido. Tenho a impressão que o plantonista nesta noite vai mandá-lo de novo para a UTI... Colega, todos nós temos que morrer um dia!” O filho médico respondeu-lhe: “Estou entendendo. Melhor para ele é que fique no apartamento com seus familiares”. Eram 09h30min. Às 17h30min o pai em direção ao filho levantou o braço e com a mão empalmada fez-lhe sinal de despedida. Às 18:00 hs a filha que também o acompanhava disse para seu irmão: “Descansou”.

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