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domingo, outubro 10, 2010

PSICANÁLISE

Notas de Lacan, do "Meu Ensino"

"Todos julgam ter uma idéia suficiente sobre a psicanálise. "o inconsciente, ora, é o inconsciente." Todos sabem agora que existe um inconsciente. Não há mais problemas, mais objeções, mais obstáculos. Mas o que é esse inconsciente?
Conhecemos o inconsciente desde sempre. Claro que há um monte de coisas que são inconscientes, inclusive tudo mundo fala sobre isso há muito tempo na filosofia. Na psicanálise, porém, o inconsciente é um inconsciente que pensa vigorosamente. É louco o que elucubra esse inconsciente. São pensamentos, dizem.
Então, ai, atenção, calma. "Se são pensamentos, isso não pode ser inconsciente. A partir do momento em que isso pensa, isso pensa que isso pensa. O pensamento é transparente a si mesmo, não se pode pensar sem saber que se pensa".
Claro, essa objeção não tem mais importância alguma agora. ...Ela parece refutável, ao passo que é irrefutável. É justamente isso o inconsciente. é um fato, um fato novo. Será preciso começar a pensar algo que dê conta disso, de que pode haver pensamentos inconscientes. Isso não é obvio.
(...) Entra-se nesse campo de saber (a psicanálise) por uma experiência unica, que consiste simplesmente em se submeter a uma psicanálise. Depois disso, poder-se-ia falar. Poder-se-ia falar, o que não quer dizer que se fale. Poder-se-ia. Poder-se-ia caso se quisesse, e querer-se-ia de fato caso se falasse a pessoas como nós, que sabem, senão para quê?
(...) O inconsciente não é uma característica negativa. Há no meu corpo um monte de coisas de que não sou consciente, que não fazem em absoluto parte do inconsciente freudiano. Não é porque o corpo é de tempos em tempos envolvido por ele que o inconsciente do corpo esteja em pauta no inconsciente freudiano...Eles chegam inclusive a fazer crer que a sexualidade de que falam é a mesma coisa que a de que falam os biólogos. De forma alguma.
(...) Será a psicanálise pura e simplesmente uma terapêutica, um medicamento, um emplastro, um pó de pirlimpimpim, tudo que cura?...A pesar de tudo, se existem pessoas que se metem nesse negócio infernal que consiste em visitar um sujeito três vezes por semana anos a fio, é porque, em tudo caso, isso tem em si certo interesse.
(...) Então, quando falamos de um furo na verdade, não é, naturalmente, uma metáfora grosseira, não é um furo no casaco, é o aspecto negativo que surge no que tange à sua inaptidão a se comprovar. é disso que se trata em uma psicanálise."
Extraido de "Lugar, origem e fim do meu ensino", em Meu Ensino, Jaques Lacan, 1967.
http://laura-fangmann.blogspot.com/

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