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domingo, julho 18, 2010

EDUCAÇÃO

Yes, nós temos bananas...
Paulo Ormindo de Azevedo
Arquiteto, professor titular da Ufba

Quando a Chrysler comprou a fábrica Simca, na década de 1960, De Gulle baixou decreto para que o fato não se repetisse. Recentemente Obama injetou fortunas na moribunda indústria automobilística e imobiliária ianque para que o setor não fosse dominado completamente pelos orientais. Do mesmo modo, protege e subsidia a indústria siderúrgica, de petróleo e etanol e a agricultura, embora faça o discurso contrário.

Com o neoliberalismo nossos governantes deixaram que vários setores econômicos fossem desnacionalizados, como a construção naval, a mecânica pesada (máquinas ferramentas, blindados, elevadores etc.), automotivo e de autopeças. O mesmo se passou nos serviços, com as redes de telefonia, energia e supermercados que passaram para espanhóis, americanos e franceses. Por último, a ofensiva vem sendo feita na produção de grãos, carne e etanol para suprir o primeiro mundo, vide novo código florestal. Mas a coisa não fica só nisso.

Qualquer processo de dominação só se conclui incutindo valores, comportamentos e simbologias. Como incutir nos nossos índios a noção de propriedade privada, de norma, autoridade, culpa e pecado? Não foi por outra razão que a conquista da América Latina se fez mediante a catequese, sob o pretexto da evangelização, embora não se levasse o evangelho aos seis milhões de escravos africanos, igualmente pagãos e iletrados, mas já dominados. Por outro lado, para que não se difundissem idéias libertárias não tivemos universidades durante todo o período colonial, monárquico e a Primeira República. Não obstante a nossa primeira universidade, a USP, ter apenas 70 anos, fizemos um grande progresso na formação de pessoal e produção científica e cultural.

Em 1965, as universidades públicas eram responsáveis por 65% da formação universitária. Sem investimentos públicos, em 2004, as privadas já eram responsáveis por 75% dessa formação e as públicas por apenas 25%. O ensino superior havia virado um negócio. Não obstante esse desequilíbrio, as universidades públicas são responsáveis por 90% da pesquisa e formação de mestres e doutores. A responsável por isto foi a Lei n.º 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, que espelha acordos firmados pelo País com a Organização Mundial do Comércio, Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial.

Pois bem, três das maiores universidades baianas foram compradas, recentemente, por grupos norte-americanos. A Unijorge pertence à Whitney International University System, dona de universidades nos EUA, na América Latina, norte da África e Oriente Médio. As faculdades Ruy Barbosa e Área 1 foram vendidas para a Fanor, controlada pela DeVry, grupo educacional com atuação em 30 países. Por último, a Unifacs foi vendida para a Laureate International Universities, que já controla oito outras universidades brasileiras e mais 50 em outros países.

Isto está acontecendo em todo o País. Essas universidades foram criadas com financiamentos públicos, com professores- doutores formados em universidades públicas com bolsas brasileiras. Elas são patrimônios educacionais que estão sendo vendidos no exterior e desnacionalizados. Vamos convir que a ofensiva atual não é apenas comercial, ela tem história. Logo após 1964, os EUA fizeram a primeira tentativa de intervenção na universidade brasileira com o convênio MEC/Usaid visando privatizá-la, silenciar os estudantes e criar lideranças alinhadas com seus objetivos geopolíticos e ideológicos.

Com a globalização, o ensino superior passou a ser tratado pelo Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (Gats), no âmbito da OMC, como uma atividade aberta ao capital estrangeiro. Curiosamente, a legislação brasileira exige que o proprietário de uma empresa de aviação, de um jornal ou TV, seja brasileiro nato e a empresa tenha 70% de capital nacional. É lamentável que numa área tão sensível, como a criação de uma consciência nacional, desenvolvimento e formação de lideranças políticas e empresariais, não haja nenhuma restrição ao domínio estrangeiro. Estamos voltando a ser um "país essencialmente agrícola".

Extraído do jornal A Tarde, 18/07/2010, Salvador – Bahia - pág. 2

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