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segunda-feira, março 26, 2018

Carta Convite, desabafo, abraço, enfim.

Carta Convite, desabafo, abraço, enfim.

Não, não se batem mais com palmatórias nas escolas. Os mal tratos são de outras ordens e eu não tenho e nem quero colecionar ferramentas ou marcas reais para comparar a palmatória com as formas permitidas e endossadas por muitas instituições escolares do presente ou julgar o que é mais apropriado em cada abordagem. Eu quero é falar! Ou melhor, escrever sobre um grito abafado e quem sabe despertar e até mesmo acolher meus colegas professores e pais que trilham essa estrada comportamental escolar sem consciência ou com a pseudociência de que é assim mesmo, não tem outro jeito.

É fácil amar um aluno/filho ajustado, bem adaptado, concentrado, focado, esforçado, CDF(como dizia na minha época). É fácil cobrir este aluno de boas palavras, corrigir suas tarefas feitas e entregues pontualmente e elevar a sua autoestima, imprimindo nele, como tatuagem, a ideia de que ele é perfeito e que assim sempre será(?????). É fácil abraçar os alunos que são abertos ao afeto, que adoram um afago. É fácil também ser empático com eles em suas tristezas, são tão bonzinhos... não merecem sofrer. É tranquilo ser amigo da família da criança perfeita e cobri-los de elogios pelo grande presente que é aquela criança. É fácil e fluido ser professor num cenário de perfeitude normótica!

O desafio está em acolher os desajustados, os que não focam, não param na roda ou na carteira, aqueles que parecem não escutar ou não entender o que o professor diz, os agressivos, intempestivos, os que falam alto, os desorganizados, os indisciplinados, os inadequados. Desafio é acolher os da letra feia, os do caderno bagunçado, da aparência desajeitada, aqueles que já estão com 7 anos e não sabem uma letra do alfabeto, não reconhecem direito os números ou espelham todos quando escrevem. Difícil é ser empático com aquele que já tem 12 anos e se porta como aluno de fundamental 1 (como se isso tivesse já anos-luz de acontecido e como se os alunos de fundamental 1 fossem considerados uma estirpe mais baixa) e é severamente taxado de o bobo, o lerdo, o imaturo, pelos amigos e pelo professor. Acreditem que já foi natural para meu filho ser chamado de “lazy boy” por uma professora de atividades extras na escola em que ele estudava. E tantas outras coisas mais....

Para esses, os que fogem da Normose crônica aceita, ficam os rótulos, os castigos, a privação da hora do recreio(🤬🤬🤬), as chamadas corretivas do diretor da escola, o constrangimento frente aos outros colegas, a suspensão, o nome no quadro, o olhar torto, a vaia, o grito disfarçado no pé do ouvido, o medo, as marcas no coração, o enfraquecimento da autoestima, a vergonha de não ser perfeito, a raiva abafada, a sensação de inadequação, de não merecimento, de tristeza. Tudo isso que sobra pra eles pode transformar-se em uma pílula de tarja preta logo ali, ou em inacabáveis sessões de terapia ou ainda em um fim brusco da vida. Não vim aqui pra falar dos que pegam o limão e fazem uma limonada. Pra mim isso soa como acariciar um cacto no sertão.

O fato é que esse modelo de punição e enquadramento à qualquer custo tem produzido indivíduos encaixotados e cheios de marcas, medos e ansiedades. Crianças inseguras de mostrarem ao mundo o que vieram fazer aqui. O medo da espontaneidade afasta o indivíduo da sua essência e uma vez longe dela, a vida vira uma mera fábrica de parafusos. Vamos, eu e você ser a diferença para eles? Vamos, eu e você fazer a vida mais leve pra eles? Você que é mãe/pai, educador, professor, vamos?
Vamos parar de querer a perfeição em tudo?!

Este é um caminho possível e eu estou aqui de coração aberto pra caminhar junto de quem quer sensibilizar a educação através da amorosidade. Menos rótulos, mais amor por favor 🙏🏽

Sou Bel Moura, mãe, educadora, palhaça, terapeuta e aprendiz da vida🌟💕

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