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domingo, dezembro 11, 2016

Um cais chamado saudade. Sônia Régis

Um cais chamado saudade
Sônia Régis


havia um porto
antes
ao alcance da vista

um ponto
onde as naus
suspendiam viagem

as velas arfavam
desenfunadas
e sonhavam

a lua sobre o mar
era um sabre
aparando a água

havia um porto
antes
ao alcance do corpo

(um ponto
onde hoje atraco a saudade
e mais nada)




na exígua laje
o nome em brasa

a primavera exala um odor patético
do peito do mármore
: a lâmina fina de tua morte me transpassa

da pedra ignara
um cancro floresce



a escrita
(como nos estudos de Leonardo)
é corpo dissecado

os músculos saltam dos traços
marcando a delicada anatomia
do rosto que a vida grafa

no desenho tosco:
o engenho do pensamento
nudez de nervos na página

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