Um cais chamado saudade
Sônia Régis
havia um porto
antes
ao alcance da vista
um ponto
onde as naus
suspendiam viagem
as velas arfavam
desenfunadas
e sonhavam
a lua sobre o mar
era um sabre
aparando a água
havia um porto
antes
ao alcance do corpo
(um ponto
onde hoje atraco a saudade
e mais nada)
•
na exígua laje
o nome em brasa
a primavera exala um odor patético
do peito do mármore
: a lâmina fina de tua morte me transpassa
da pedra ignara
um cancro floresce
•
a escrita
(como nos estudos de Leonardo)
é corpo dissecado
os músculos saltam dos traços
marcando a delicada anatomia
do rosto que a vida grafa
no desenho tosco:
o engenho do pensamento
nudez de nervos na página
domingo, dezembro 11, 2016
Um cais chamado saudade. Sônia Régis
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