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sexta-feira, agosto 14, 2015

As drogas e o STF

Sou um puta bipolar, mas , para lidar com minha enorme ansiedade, ao invés de usar maconha, eu tomo remédio ou simplesmente rezo ( ou : eu sei que um juiz do Partido dos Trabalhadores \ STF , tipo Lewandowski, é poderosíssimo e ganha 60 mil por mês, mas isto lhe dá poderes médicos de diagnosticar e pontificar sobre dependência química ? )
Está em “debate”, mais uma vez, entre os juízes do Supremo Tribunal Federal ( STF ) , se uso de maconha é crime ou não. Ou seja, gente que não entende nada disto, com todo o poder de decidir sobre isto.
Um médico de Monte Azul - MG ganha 1.300 reais por mês para diagnosticar dependência de maconha. Um Juiz ganha uma média de 60.000 reais por mês para diagnosticar dependência de maconha. As diferenças não acabam só aí. Tais diferenças mostram duas coisas : 1/ o desprestígio da Medicina brasileira. 2/ o super-prestígio do Estado brasileiro. Como é que um juiz ( mesmo um "juiz competente do competente STF", como o Lewandowski ) consegue diferençar se quem porta maconha é um doente, dependente, psicótico esquizofreniforme por uso de maconha, ou apenas um "usuário portador"? O "poder" que ele tem o ensinou medicina ? No hospital do SUS onde eu trabalho, no momento, entre 8 pacientes sob meus cuidados, estou cuidando de cinco com psicoses graves induzidas por maconha ( todos ainda "defendendo" que "maconha não faz mal" ) . E estou ganhando do SUS 6 reais para cuidar deles por 24 horas, andando ou em coma, comendo ou com sonda, urinando ou cateterizado. E com todo o "prestígio" que o "título" de "médico do SUS que cuida de maconha" me dá.
Tal debate renitente na sociedade brasileira ( “vamos descriminalizar drogas” ) reflete o atual espírito dos tempos : “libertário e anti-autoritário”. Usuários de maconha, que se dizem recreativos e funcionais, assim como os alcoolistas e tabagistas, querem o “direito” de usar o que querem. Até aí é compreensível, cada um faz com seu corpo o que lhe aprouver. O problema é quando este “prazer do corpo” psicotiza, mata, acidenta, suicida, milhares de outras pessoas. Poucos concordam que armas de fogo deveriam ser liberadas e deixadas ao alcance de crianças. O que é um doente mental que não uma criança, em alguns aspectos ? Devemos transar com uma maníaca em surto de furor sexual ? Ou com uma criança com alteração hormonal gerando puberdade precoce ? Devemos deixar à disposição de doentes mentais, potencialmente suicidas, o livre-acesso à drogas desestabilizadoras ? Daí minha opinião ser ainda mais radical do que o momento atual : tudo que é potencialmente lesivo deveria ter divulgação e comercialização proibidas, aí inclusas as bebidas alcóolicas e cigarros. Usa quem quer, se a pessoa é “usuária recreativa”; mas então que então pague o ônus de contrabandear e usar clandestinamente aquilo que prejudica milhões.
Como saber quem vai ser “usuário recreativo” e quem vai se psicotizar ? Quem vai desenvolver uma encefalopatia alcoólica ou quem vai ter uma doença cerebrovascular de Buerger pelo uso de nicotina ? Vai ser o Juiz Lewandowski que vai saber disto ?
Evidentemente que um dependente, pego com maconha, não deve ir para a cadeia. Mas, caso um médico competente - e não um juiz - o julgue doente, dependente, psicótico, alucinótico, etc, não deveria ser “simplesmente solto em liberdade”. Deveria ser obrigado a tratar-se, pois mais cedo ou tarde o prejuízo a si ou a outrem ( geralmente mais a outrem do que a si ) será inevitável. Para se ter uma ideia, há 10 anos atrás, 20% dos meus pacientes psicóticos eram usuários de drogas; hoje chegam a quase 85% . O problema é epidêmico, mas, prá variar, quem entende do assunto, quem está lidando com o assunto, não é ouvido numa Sociedade onde o Estado ( e seus representantes, togados ou não ) é soberano.
Os “representantes deste Estado-esquerdista”, hoje, em sua maioria, acham “bonitinho” “jogar para a galera” , ou seja, darem ouvidos aos “revoltadinhos anti-autoridade”. Tais “anti-autoridade-maconheiros” geralmente utilizam-se da droga para ficarem “mais calmos”, extamente porque são portadores de uma ansiedade num contexto de transtorno bipolar. Transtorno este que os faz exatamente também mais querelantes, “idealistas”, “passionais”, “reivindicativos”, “orgulhosos”, “ativistas”, do que as pessoas normais. O ativismo “anti-autoridade” nada mais é, em muitos casos, do que um sintoma de um “ego orgulhoso”, um “ego hiperativo”, hiperpoderoso, voluntarioso, um ego superexpansivo exatamente porque é o “toque bipolar” quem lhe dá esta expansividade. Nada contra os bipolares, inclusive tenho orgulho de me perfilar entre eles. Só que, para aplacar minha ansiedade e minha querelância, eu rezo, ao invés de fumar maconha.
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Marcelo Caixeta, médico psiquiatra.

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