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domingo, outubro 05, 2014

É CADA VEZ MAIS DIFÍCIL ARRANJAR MÉDICO QUE SE COMPROMETA COM SEU PACIENTE, NO CONSULTÓRIO, NO HOSPITAL. QUAIS AS CAUSAS ? Marcelo Caixeta. Medicina

É CADA VEZ MAIS DIFÍCIL ARRANJAR MÉDICO QUE SE COMPROMETA COM SEU PACIENTE, NO CONSULTÓRIO, NO HOSPITAL. QUAIS AS CAUSAS ?
Marcelo Caixeta

1) Afora ao já bem-divulgado " desaparecimento da pediatria" ( que é uma "medicina clínica", ou seja, baseada no consultório, na conversa, no exame físico e psíquico bem-feito do paciente, no conhecimento do paciente ao longo do tempo, acompanhamento longitudinal ), você já notou que dificilmente você ou alguém da sua família conseguem um médico que siga bem , no consultório, na "consultinha", ou numa enfermaria, sua doença ou a de seus familiares ? Já notou que acha muita gente para fazer exames, procedimentos médico-hospitalares-cirúrgicos-burocráticos mas não acha nenhum médico, de fato, para "segurar no chifre-do-boi" ?
2) Sabe por que acontece isto ? Os médicos estão mesmo "fugindo" da "consultinha", fugindo da enfermaria, buscando outras fontes de renda, entre elas a de te atender em pronto-socorros, ganhando por plantões hospitalares que estão virando a "solução" para as consultas e diárias baixíssimas das enfermarias . Os médicos estão abandonando o navio construído pelo Governo : preços de consulta lá embaixo, desvalorização da consulta, pois o modelo que se espalhou pelo Brasil é o de : a) "pagar consulta prá quê, se tenho de graça no SUS ( saúde pública)" ? b) ainda seguindo o "modelo do SUS" , diz o paciente : "consultinha" médica é algo banal, atendem você em 5 minutos, te dão uma receitinha ilegível, um punhado de exames, nem põem a mão em você, não querem nem saber do que aconteceu, nunca mais vão te ver pela frente, não tão nem aí".
3) Não adianta "fugir" do SUS para os convênios médicos : a destruição da Medicina no SUS já contaminou os planos de saúde : qualidade e preço da consultinha lá embaixo. O dono do Plano de Saúde pensa : "prá que pagar decentemente um procedimento tão banal, simples, fraudulento, ineficaz, como este ?"
4) Resultado desta "destruição da consultinha" : a) atendimentos hospitalares virando consultórios. b) enfermarias virando "leitos de observação". c) leitos de UTI virando leitos de enfermaria. d) já há a necessidade de "super-leitos-de-UTI" para cuidar do que deveria ser UTI.
5) Sem a “consultinha” todo problema médico vai desembocar no super-leito-da-UTI, do qual apenas 30% dos pacientes sairão vivos ( a “sobre-mortalidade” das UTIs brasileiras já foi objeto de vários artigos ).
6) Veja bem, a "falta da consultinha" em um caso real : a) o Governo, o Plano, a População, não quiseram pagar a "consultinha banal" de um médico psiquiatra para Allan, nome fictício, caso verdadeiro, garotinho hiperativo de 6 anos de idade. b) cresceu, sua hiperatividade virou distúrbio de conduta, personalidade anti-social. c) ainda não quiseram pagar consultinhas para ele. d) foi para a rua, para o crime, para a gangue, para as drogas. Ainda sem consultinha. e) por dívida de drogas levou tiro no abdomem, cirurgia, colostomia, necrose tubular aguda ( "rim secou" ), hemodiálise. Pela primeira vez o Governo "cuidou dele" = custo hospitalar, com diálise ambulatorial e tudo = 85 mil reais ( quantas consultinhas daria para pagar ?). f) não terminou por aí, mesmo com colostomia, diálise, etc, continuou "aprontando", drogas, orgias, etc, pegou AIDS ( mais quantas "consultinhas" o Governo poderia pagar ? g) ainda não acabou : subiu em uma moto, quebrou a coluna, espatifou 4 vértebras, quebrou as duas pernas, traumatismo crânio-encefálico, 3 meses de UTI, Hospital de Reablitação, ou seja, mais 200 mil reais. No total, uns MEIO MILHÃO de reais ( que por ser jovem chegará facilmente a UM MILHÃO de reais ) que o Governo gastou com este "ex-hiperativo-sem-consultinha-banal", atualmente poli-lesionado , vegetalizado, sendo cuidado em um leito de hospital para crônicos tetraplégicos.
7) Nem os médicos, em sua maioria, ou as Entidades Médicas não enxergam isto. Por que ? Além da falta de "profundidade" da alma intelectual brasileira, há fatores políticos : os médicos, como toda a classe média no Brasil, acostumou a mamar e a esperar tudo no Governo. Por exemplo, os médicos mais influentes e as Entidades que eles dirigem ainda pensam que a "saída" da Medicina está em mais boquinhas no Governo ( por isto batem na "tecla furada" de "Carreira de Médicos no Governo como a de Juízes, Promotores, etc ).
8 ) Com esta visão, ficam "esperando soluções do Governo" sem se darem conta ( ou sem querer enxergar ) que o Governo é justamente a CAUSA de todos estes problemas. Ao invés de atacarem a RAIZ do problema, restringem-se a, no plano coletivo, a : a) exigir "Carreira de Estado" para médicos. b) exigir "melhor pagamento dos Planos".
9 ) Sem atacar o problema na profundidade, ficam só arranhando a superfície, tomando medidas pontuais, medidas que nem arranham as poderosas Leis de Mercado ( os Planos continuarão pagando pouco ) nem as Leis de Governança ( o "Governo continua aumentando o Estado e esmagando cada vez mais o cidadão" ). Querer "Carreira de Estado", por exemplo, é simplesmente querer mais ingerência do Estado na vida do Médico, ingerência esta que, como se vê, só produz prejuízos, não só para o médico mas para o paciente.
10 ) A solução ? Muito simples : tirar o Governo de toda jogada estatal da Medicina. A única funçao que poderia lhe restar seria a de ressarcir atendimentos médico-hospitalares feitos ( à livre-escolha, por parte do paciente, de profissionais e instituições ) sobre pessoas REALMENTE POBRES. Só isto. No resto, o povo , a classe média, teriam de REAPRENDER a pagar e valorizar o médico e sua famigerada "consultinha".
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Marcelo Caixeta, médico psiquiatra.

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